27 de junho de 2023

Resenha: "INDIANA JONES E A RELÍQUIA DO DESTINO" (2023) [sem spoilers]

 
"Indiana Jones e a Relíquia do Destino" (2023), o 5º e último filme da saga do inesquecível arqueólogo interpretado pelo Harrison Ford, já surgiu quase como um “jogo ganho”... afinal, não seria difícil superar o irregular e exagerado “O Reino da Caveira de Cristal”. Essa franquia de aventura/ação, que foi criada e até então conduzida por Steven Spielberg e George Lucas, foi agora dignamente finalizada pelo dedicado diretor James Mangold.

Claro, o tema do envelhecimento está presente aqui, agora que o Indiana Jones é idoso. Um acerto foi a abordagem sutil e pouco óbvia de Mangold ao ponto - sem puxar muito do seu próprio filme “Logan” -, visto que essa franquia foi concebida como aventureira, espirituosa e episódica. Há também um objeto ‘MacGuffin’, e o batido clichê da possibilidade de viagem no tempo, tudo a serviço da simbólica questão “aceitar ou não os efeitos do tempo”...

Harrison Ford impressiona de novas formas, ao alternar com realismo o cansaço inevitável e o restante de ímpeto que podem existir num herói que não encontrou espaço na “contemporaneidade” dos anos 60… A cinematografia vivaz, as vibes "pulp" e o maniqueísmo previamente usados por Spielberg para nos levar essencialmente aos tempos da Segunda Guerra, foram trocados agora por uma sobriedade que parece nos convidar a observar as ambivalências político-sociais do ápice da Guerra Fria.

Não há espaço narrativo para a maioria dos personagens (Antonio Banderas, por exemplo), mas podemos destacar aqueles que se conectam de alguma forma com Jones: a enérgica e malandra personagem interpretada pela Phoebe Waller-Bridge, e o bem delineado e nada caricato vilão interpretado pelo Mads Mikkelsen. A breve aparição de dois personagens clássicos, e uma certa explicação paternal, também deixarão os fãs comovidos…

O filme "Indiana Jones e a Relíquia do Destino" merece receber a mesma suspensão de descrença que aplicamos ao icônico "Os Caçadores da Arca Perdida". Com uma ação que não ignora as fragilidades de um herói idoso, com as boas e velhas incursões pelo sobrenatural, e com uma trama que “segue em frente” por vários obstáculos e localidades sem exagerar nas “contemplações de despedida”, aí está um ótimo, tradicional e comedido ‘blockbuster’. Obrigado Harrison Ford!

Nota: 8

Por Fábio Cavalcanti

13 de junho de 2023

Resenha: "THE FLASH" (2023) [sem spoilers]

 
Na era atual dos filmes de super-heróis, na qual as viagens no tempo e os multiversos se tornaram um repetitivo recurso narrativo, a regra suprema é a seguinte: não existem mais regras para a lógica. “The Flash” (2023), o filme do Universo Estendido DC sobre aquele pitoresco personagem super veloz, pode ser tão problematizado em pontos científicos quanto qualquer obra desse tipo - em especial, as “da concorrência” -, ou pode ser apreciado pela sua abundância de humanidade e de momentos empolgantes…

Dirigido por Andy Muschietti, com o mesmo apreço emocional, cômico e “ácido” que este dedicou às dinâmicas dos personagens do seu “It - A Coisa”, esse filme apresenta um Barry Allen que não é apenas o jovem “engraçadinho e às vezes irritante” que conhecemos na Liga da Justiça. As “duas atuações” do Ezra Miller aqui foram potencializadas por um roteiro que pôs a temática “de amadurecimento” e o temor à frente das eventuais - e bacanas - piadinhas…

Como já foi divulgado, há também o sagaz Batman do Michael Keaton, que funcionou como um mentor na narrativa, e não apenas como ‘fan service’. Suas cenas de ação, que adotam o frenetismo dos filmes atuais, são elevadas pelo carisma do ator. Por outro lado, a Supergirl da Sasha Calle é mais uma daquelas atuais heroínas “duronas até demais”, o que não gera uma boa identificação. Já o revivido vilão Zod (Michael Shannon) serve apenas para adiar até o fim uma boa e reflexiva reviravolta vilanesca…

Quem deseja ver as cenas de “super velocidade em câmera lenta”, pode ao mesmo tempo se deleitar com o alto nível de criatividade destas (em especial, uma que envolve uma queda), e também reclamar do fato de que não existem tantas ao longo da trama… A “épica” ação final será também cansativa para uns, e acertadamente catártica para outros… Acima disso tudo, há algo meio “‘De Volta para o Futuro’ subvertido” aqui, que nos faz pensar sobre como lidar com o luto e com a aceitação do que é inevitável na vida.

“The Flash” é um filme abrangente de ação/aventura/fantasia, capaz de fazer o espectador rir nas medidas certas, sentir alguma tensão, e chorar em uma ou outra parte… Apenas não é recomendável para quem já sente a fadiga do “quase tudo é possível” que acomete obras sobre “realidades alternativas”. Seu provocativo final até funciona igualmente como 'cliffhanger' e como uma possível despedida para o agora tão completo Flash do Ezra Miller. A DC tem ainda algumas cartas na manga, afinal.

Nota: 9

Por Fábio Cavalcanti