17 de outubro de 2023

Resenha: "ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES" (2023) [sem spoilers]


Martin Scorsese é bastante lembrado pelos seus filmes que são dotados de uma direção dinâmica e de certas intenções irônicas nas suas narrativas. Já o extenso e épico “Assassinos da Lua das Flores” (2023), que nasceu absolutamente necessário nessa atualidade recheada de escapismos cinematográficos, é de um drama calcado numa contemplação sóbria acerca de tragédias ocorridas na vida real.

O roteiro de Eric Roth e Scorsese, que foi baseado no livro homônimo de David Grann, narra a seguinte história inspirada em fatos: nos Estados Unidos dos anos 1920, membros da tribo indígena Osage foram misteriosamente assassinados, após terem descoberto petróleo em suas terras. Certos ecos das obras de faroeste, de investigação policial capitaneada por um então emergente FBI, e de máfia, foram usados com fluidez e realismo.

Leonardo DiCaprio, que interpreta um malandro um tanto tolo, e Robert De Niro, que interpreta um empreendedor maquiavélico, merecem elogios pelas suas boas e intrigantes nuances. Quanto à  Lily Gladstone, que interpreta uma nativa americana, merece aplausos (e indicações a prêmios) por uma atuação que nos puxa para um contexto de mudanças dolorosas. Destaco também os breves momentos de Jesse Plemons e Brendan Fraser…

Com o esmero técnico habitual, tanto em imagem quanto som, o diretor “pintou” muito bem um panorama político-social que remete a um dos seus subtextos favoritos: como as explorações cobiçosas e os crimes sempre estiveram associados com a “evolução” dos Estados Unidos. Os pontos do roteiro relacionados a consequências de atos, caem no lugar-comum, mas a tocante análise sobre o legado de um povo fala mais alto…

“Assassinos da Lua das Flores” é um filme que será melhor apreciado por quem já ama o Martin Scorsese de "O Irlandês": envelhecido, consistente, e desapegado de criar cenas icônicas para o espectador comum. Aquelas mais de três horas vão entediar alguns, e serão perfeitas para quem foi logo atraído pelos profundos personagens de DiCaprio, De Niro e Gladstone. Outro acerto de um dos mestres do cinema!

Nota: 8

Por Fábio Cavalcanti