21 de agosto de 2019

Resenha: "YESTERDAY" (2019) [sem spoilers]



Como seria uma realidade sem a música dos Beatles (e, por tabela, sem coisas como Coca-Cola e a banda Oasis)? Pior ainda: como seria a atualidade se, após um apagão no planeta todo, apenas um músico frustrado lembrasse da existência das canções? E se esse músico se apropriasse da autoria de todas essas canções? Essa é a história fantasiosa e quase fabulesca de "Yesterday" (2019), novo filme do consagrado diretor Danny Boyle.

Além da sua trama básica, temos também um lado forte de comédia romântica envolvendo os dois protagonistas: o desajeitado cantor Jack Malik (Himesh Patel) e a sua fofa amiga Ellie Appleton (Lily James). Apesar da boa química entre os dois, há alguns clichês e situações forçadas do gênero ao longo do filme, o que nos faz perceber como o roteiro seria ainda mais forte se trouxesse maior detalhamento nos desdobramentos musicais e nos seus subtextos sobre desonestidade e falta de personalidade.

Por sinal, essa hipotética realidade evoca a questão "talento vs. mediocridade", visto que nem todo mundo possui o dom para compor obras épicas - algo intensificado pelas ótimas piadas depreciativas em cima das aparições do cantor Ed Sheeran na história. Há ainda alguns geniais momentos que exploram o anacronismo que existe numa atualidade fictícia em que essas canções nasceram tão afastadas de sua época e contextos originais (preste atenção nas cenas de “Hey Jude”, “Back in the USSR” e do “White Album”, por exemplo).

Boyle continua empregando classe em sua direção, mesmo em uma narrativa que não se arrisca e não ousa tanto em suas reviravoltas e questões morais. No geral, ele se mostra econômico em seus habituais maneirismos de cores e montagens, além de fazer com que a certa falta de carisma do ator Himesh Patel seja ironicamente funcional para a história e sua mensagem. Some-se a isso a dose de simpatia fornecida pela atriz Lily James e alguns outros...

“Yesterday” é, no fundo, uma bela homenagem à universalidade das canções dos Beatles, em que somos presenteados com uma nostalgia reverente e ideal para uma boa sessão ao lado da família ou dos amigos. A comédia é bem sacada, elegante e nada apelativa – em especial durante as (re)criações das músicas -, e o lado dramático pode te extrair pequenas lágrimas em uma ou duas cenas... Temos aqui um estado de inocência não muito distante do que sentimos ao escutar os sons dos garotos de Liverpool. All You Need is Love!

Nota: 8

Por Fábio Cavalcanti

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