Scalene é uma banda de rock
alternativo formada em Brasília, capitaneada por Gustavo e Tomas Bertoni, e que
fez alguma fama por ter se destacado no programa Superstar (Rede Globo). Em
plenos “anos 2010’s”, essa migalha de visibilidade foi o bastante para o
quarteto se tornar um dos poucos exemplares ‘mainstream’ do nosso maltratado
gênero. E após três álbuns focados numa mistura elegante de rocks, baladas,
peso e melancolia, o grupo entrega um disco que, para o bem e para o mal, é o
mais ousado e introspectivo da sua carreira: “Respiro” (2019).
Aqui, o Scalene investe em uma
sonoridade de tons meditativos, seja em voz, timbres, entrelaces acústicos e eletrônicos,
e numa produção “moderninha” que joga as guitarras e baterias para escanteio. As
letras consistem de devaneios existencialistas, descobertas de novas
perspectivas de vida, e algumas pontuais críticas sociais – provando mais uma
vez que o rock, em maior parte, continua avesso a ideologias retrógradas.
Porém, essa mistura resulta em uma quantidade considerável de canções pouco
inspiradas, além de certo sentimento letárgico...
“Vai Ver” e “Ilha no Céu” são
‘sambas-rock’ soníferos, com violões meio picaretas de bossa nova, e que caem
no lugar-comum daquilo em que se transformou o rock nacional após o auge do Los
Hermanos. “Tabuleiro” se perde na sua poesia labiríntica, e também distrai o
ouvinte que poderia se deixar levar pelo suingue e cadência peculiares da
canção. E a quase sinistra “Esse Berro” consegue trazer resultados cômicos, em
especial por causa da participação de um Ney Matogrosso que parece recém-chegado
de uma abdução alienígena.
Já “Ciclo Senil” é um petardo
hipnotizante de tensão crescente, e que se beneficia também de uma espertíssima
letra ácida. E “Furta-Cor” é um pop/rock com temperos R&B – intensificados
pela boa participação vocal de Xênia França -, e que nos faz flutuar com o seu
refrão etéreo e comovente. As lindas e singelas “Casa Aberta” e “Assombra”
parecem algo que o Coldplay faria após passar um tempo no Brasil... E num
extremo mais soturno, a dissonante e esquizofrênica “Percevejo” soa como um
Radiohead rústico que resolveu compor dentro de um calabouço.
Beneficiado pela coragem de
usar influências que vão da MPB ao trip hop, o álbum “Respiro” faz valer o seu
próprio título: é um relaxamento em um novo ambiente sônico. Pena que, à parte
de algumas boas faixas, o Scalene teve aqui seus primeiros momentos de
“afogamento” em suas próprias pretensões. O talento do quarteto havia sido
constante até então - desde os tempos em que suas influências iam de Muse a
Queens Of The Stone Age -, e isso ainda pode nos render grandes discos no
futuro... sejam estes de ‘stoner rock’, brega erudito, ou arrocha
progressivo...
Nota: 5
Por Fábio Cavalcanti
Músicas:
1. Vai Ver
2. Tabuleiro
3. Casa Aberta
4. II
5. Esse Berro
6. Percevejo
7. Ciclo Senil
8. Sabe O Que Foi?
9. Furta-Cor
10. Ilha No Céu
11. Assombra
12. III
13. O Que É Será