31 de julho de 2019

Resenha: "VELOZES & FURIOSOS: HOBBS & SHAW" (2019) [sem spoilers]


A franquia "Velozes & Furiosos" se expandiu de tal forma que, poderíamos prever até umas continuações envolvendo viagens espaciais, viagem no tempo e multiversos... e com carros munidos de inteligência artificial e questionamentos existenciais. Por ora, temos o derivado "Hobbs & Shaw" (2019), um filme de menor escala, e que se mostra bem sucedido na arte de colocar em seu caldeirão um pouco de 007, um tanto de Missão Impossível e... esteroides!

A história é simples: O policial Luke Hobbs se junta ao fora da lei Deckard Shaw para combater um megalomaníaco terrorista, numa tentativa de eliminar um vírus que pode mudar o rumo da humanidade. Típica trama de espionagem moderna, recheada de perseguições, tiroteios e porrada, além de bons momentos cômicos – incluindo referências aos clichês do próprio gênero. O diretor David Leitch continua hábil na área da pancadaria estilizada – e muito bem colorizada -, para nos mostrar que certos elementos de “John Wick” e “Atômica” ainda seguem atuais...

Dwayne Johnson e Jason Statham brilham como Hobbs e Shaw, com uma inesperada química à la “buddy cop versão brucutu”, e numa trama que também aborda questões familiares do passado dos seus protagonistas. E Idris Elba faz um vilão que transita bem entre a agressividade e a elegância. Já Vanessa Kirby, que faz a irmã de Shaw, não atinge grande destaque além da sua importante função na narrativa. De brinde, Helen Mirren e mais dois atores "misteriosos" (sem spoilers) fazem pontas engraçadíssimas, e nos deixam com um gosto de “quero mais”...

A ação é de um deleite visual e sonoro que são superiores à maioria dos ‘blockbusters’ atuais, o que pode ser confirmado em duas hipnotizantes cenas de perseguição: uma nas ruas de Londres, e outra envolvendo caminhões e um helicóptero. A montagem também gera boa fluidez nas viagens realizadas pelos personagens. Por outro lado, a história fica um pouco “cansada” na segunda metade do filme, especialmente por ser de uma ação mais... “família”, digamos assim – outro exemplo de como uma classificação baixa pode cortar a liberdade artística de uma obra.

Em “Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw”, podemos dizer que David Leitch conseguiu “tirar leite de pedra”, no sentido de trazer alguma elegância cinematográfica a uma trama que, não apenas é bastante batida, como também repete o caráter episódico e “leve” que se tornou obrigatório em filmes da marca “Velozes & Furiosos”. Temos aqui uma diversão acima da média, e que não deixa de ser um dos melhores e mais bem dirigidos filmes dessa longa e irregular franquia. Hobbs e Shaw estão bem desenvolvidos agora, e prontos para novas aventuras em dupla.

Nota: 7

Por Fábio Cavalcanti

26 de julho de 2019

Resenha: "SCALENE - RESPIRO" (2019)


Scalene é uma banda de rock alternativo formada em Brasília, capitaneada por Gustavo e Tomas Bertoni, e que fez alguma fama por ter se destacado no programa Superstar (Rede Globo). Em plenos “anos 2010’s”, essa migalha de visibilidade foi o bastante para o quarteto se tornar um dos poucos exemplares ‘mainstream’ do nosso maltratado gênero. E após três álbuns focados numa mistura elegante de rocks, baladas, peso e melancolia, o grupo entrega um disco que, para o bem e para o mal, é o mais ousado e introspectivo da sua carreira: “Respiro” (2019).

Aqui, o Scalene investe em uma sonoridade de tons meditativos, seja em voz, timbres, entrelaces acústicos e eletrônicos, e numa produção “moderninha” que joga as guitarras e baterias para escanteio. As letras consistem de devaneios existencialistas, descobertas de novas perspectivas de vida, e algumas pontuais críticas sociais – provando mais uma vez que o rock, em maior parte, continua avesso a ideologias retrógradas. Porém, essa mistura resulta em uma quantidade considerável de canções pouco inspiradas, além de certo sentimento letárgico...

“Vai Ver” e “Ilha no Céu” são ‘sambas-rock’ soníferos, com violões meio picaretas de bossa nova, e que caem no lugar-comum daquilo em que se transformou o rock nacional após o auge do Los Hermanos. “Tabuleiro” se perde na sua poesia labiríntica, e também distrai o ouvinte que poderia se deixar levar pelo suingue e cadência peculiares da canção. E a quase sinistra “Esse Berro” consegue trazer resultados cômicos, em especial por causa da participação de um Ney Matogrosso que parece recém-chegado de uma abdução alienígena.

Já “Ciclo Senil” é um petardo hipnotizante de tensão crescente, e que se beneficia também de uma espertíssima letra ácida. E “Furta-Cor” é um pop/rock com temperos R&B – intensificados pela boa participação vocal de Xênia França -, e que nos faz flutuar com o seu refrão etéreo e comovente. As lindas e singelas “Casa Aberta” e “Assombra” parecem algo que o Coldplay faria após passar um tempo no Brasil... E num extremo mais soturno, a dissonante e esquizofrênica “Percevejo” soa como um Radiohead rústico que resolveu compor dentro de um calabouço.

Beneficiado pela coragem de usar influências que vão da MPB ao trip hop, o álbum “Respiro” faz valer o seu próprio título: é um relaxamento em um novo ambiente sônico. Pena que, à parte de algumas boas faixas, o Scalene teve aqui seus primeiros momentos de “afogamento” em suas próprias pretensões. O talento do quarteto havia sido constante até então - desde os tempos em que suas influências iam de Muse a Queens Of The Stone Age -, e isso ainda pode nos render grandes discos no futuro... sejam estes de ‘stoner rock’, brega erudito, ou arrocha progressivo...

Nota: 5

Por Fábio Cavalcanti

Músicas:
1. Vai Ver
2. Tabuleiro
3. Casa Aberta
4. II
5. Esse Berro
6. Percevejo
7. Ciclo Senil
8. Sabe O Que Foi?
9. Furta-Cor
10. Ilha No Céu
11. Assombra
12. III
13. O Que É Será

1 de julho de 2019

Resenha: "HOMEM-ARANHA: LONGE DE CASA" (2019) [sem spoilers]


Uma das formas mais depreciativas de se referir aos filmes de super-heróis do grandioso “Universo Cinematográfico Marvel” (‘MCU’) é no uso de argumentos como “filme episódico demais” ou “apenas um trailer para o capítulo seguinte”... palavras essas que foram caladas temporariamente após o fenômeno de “Vingadores – Ultimato”. Porém, por mais que tentemos evitar os argumentos supracitados, eles voltam à tona – para o bem e para o mal – quando falamos sobre o 23º filme da franquia: “Homem-Aranha - Longe de Casa” (2019).

Essa nova aventura se passa em uma viagem escolar pela Europa, onde o Homem-Aranha é convocado por Nick Fury, juntamente com o enigmático Mysterio, para lidar com os vilões chamados de Elementais. Aqui, o diretor Jon Watts não se distancia muito da aura leve e despretensiosa da aventura solo anterior do aracnídeo, e entrega uma narrativa ágil, mais intensa na comédia, e que ainda investe em questões sobre amadurecimento e responsabilidade (#SddsTioBen), além de algumas sutilezas relacionadas a famílias e afins...

As surpresas ficam por conta dos intrigantes jogos de ilusão proporcionados pelo Mysterio, que é um personagem multidimensional muito bem incorporado por Jake Gyllenhaal... embora previsível quanto à principal reviravolta do seu arco. Já o Peter Parker de Tom Holland continua com aquelas dúvidas e inquietações adolescentes de sempre, além de finalmente estabelecer uma química bastante peculiar com a MJ (Zendaya). E os outros personagens, em sua maioria, se alternam entre a acertada utilidade no roteiro e o mero alívio cômico.

A ação é de um deleite para os olhos e ouvidos em sua parte técnica, mas não gera um real senso de perigo, possivelmente por causa do próprio enfoque de Watts em fazer deste um mero “filme ensolarado para as férias”. E, por mais bacana que seja a interação de Parker com mentores diferentes ao longo da narrativa (de Fury a Happy Hogan), é um pouco decepcionante constatar que sua evolução ocorre a passos lentos - e não à toa, o antigo mentor Tony Stark ainda é bastante citado.

Seja como for, “Homem-Aranha - Longe de Casa” é um filme divertido, moderno e “retrô” ao mesmo tempo, e que une bem a ação, comédia e romance adolescente. Tudo bem que as duas inspiradas cenas pós-créditos acabam sendo mais memoráveis do que momentos isolados do filme em si, mas o fato é que a “fórmula MCU” ainda traz pequenas surpresas e gostinhos de “quero mais” em meio a elementos já utilizados à exaustão. Algumas vezes, só precisamos ser devidamente iludidos, seja nas mãos do Mysterio ou nas mãos de Kevin Feige e companhia...

Nota: 7

Por Fábio Cavalcanti