21 de junho de 2019

Resenha: "THE RACONTEURS - HELP US STRANGER"


Se você não esteve totalmente alheio ao rock nos últimos 20 anos, deve ter ouvido falar em um músico inquieto chamado Jack White. O cantor/guitarrista atingiu o sucesso através do duo The White Stripes, e então se aventurou em mais três projetos distintos – incluindo sua carreira solo. Um desses projetos é o The Raconteurs, banda norte-americana formada também por Brendan Benson (voz e guitarra), Jack Lawrence (baixo) e Patrick Keeler (bateria). Após um longo hiato do grupo em questão, temos agora o seu terceiro álbum: “Help Us Stranger” (2019).

Apesar de possuir uma carreira solo “aventureira” em termos de estilos, White aproveitou o The Raconteurs para voltar a tocar um rock “old school” mais coletivo. Assim como nos dois álbuns anteriores, o novo trabalho conta com influências que vão do blues rock ao folk, e ainda fornece letras simples e objetivas sobre a vida, que unem sensibilidade e irreverência. A faixa que melhor representa o espírito do álbum é justamente a ensolarada “Help Me Stranger”, a qual mistura bem o acústico, o elétrico, a serenidade e uma pegada suingada, tudo ao mesmo tempo...

Vale lembrar que, mesmo com a sua abordagem despretensiosa, há um nível bacana de refinamento por parte das vozes – incluindo o Benson - e instrumentais, além de pequenas mudanças rítmicas, e ganchos melódicos em várias faixas. No extremo mais roqueiro, a sensacional “Bored and Razed” é o tipo de “porrada” que pode eletrizar todo o corpo de qualquer pessoa que não esteja morta por dentro. No extremo introspectivo, contemplemos a linda - e quase flutuante - “Only Child”, além da simpática “Now That You're Gone”.

A esquisita “Don't Bother Me” é um momento quase ‘jam band’, que cativa por parecer uma combustão sônica espontânea. Já “Sunday Driver” puxa uma ‘vibe’ meio Rolling Stones, que nunca deixa de soar atraente. E “Hey Gyp (Dig the Slowness)” é um alucinado cover do Donovan que evoca o extremo mais dançante e percussivo do blues rock. Por outro lado, há algumas faixas menos inspiradas, como a simplória e 'beatlenesca' balada "Shine the Light On Me"... Sem contar “Thoughts and Prayers”, que possui um sabor “country alternativo” meio insosso...

Pode-se concluir que “Help Us Stranger” traz de volta, com sucesso, os cenários rústicos, os altos e baixos, e o “feeling retrô” desmedido que sempre adoramos na maioria dos trabalhos de Jack White - e arrisco dizer que o The Raconteurs pode vir a se tornar o seu projeto mais respeitado. Temos aqui uma banda em que todos os quatro membros se destacam de alguma forma, e que pode fornecer uma experiência deliciosa em sua sutil amplitude. Feche os olhos e escute alto!

Nota: 8

Por Fábio Cavalcanti

Músicas:
1. Bored and Razed
2. Help Me Stranger
3. Only Child
4. Don't Bother Me
5. Shine the Light On Me
6. Somedays (I Don't Feel Like Trying)
7. Hey Gyp (Dig the Slowness) [cover de Donovan]
8. Sunday Driver
9. Now That You're Gone
10. Live a Lie
11. What's Yours Is Mine
12. Thoughts and Prayers

Resenha: "HOLLYWOOD VAMPIRES - RISE"


O Hollywood Vampires é um supergrupo de hard rock estadunidense, capitaneado pelos renomados músicos Alice Cooper (vocalista) e Joe Perry (do Aerosmith, guitarrista), juntamente com o ator Johnny Depp (guitarrista). Seu primeiro álbum, lançado em 2015, foi um grande tributo colaborativo a artistas icônicos do rock – muitos já falecidos -, através de um apanhado de covers dos mesmos. Já no segundo álbum, “Rise” (2019), temos finalmente a faceta autoral dos “vampiros”, a qual traz resultados bastante satisfatórios...

Há um clima de morbidez cômica que permeia o trabalho, quase como uma suposta trilha sonora para um daqueles “filmes B” que nos deixam com um sorriso no rosto. E, como já era de se esperar, as letras possuem o habitual espírito teatral de Alice Cooper, seja ao girar em torno de algum alter ego pitoresco, ou na narrativa de situações mirabolantes.

A química entre os três líderes nem sempre se mostra tão harmoniosa, mas ainda nos garante canções inspiradas, como as arrepiantes e impositivas “Who's Laughing Now” e “New Threat”, a fantasmagórica “The Boogieman Surprise”, a quase bêbada “We Gotta Rise”, e o irreverente ‘rockabilly’ “Welcome to Bushwackers” (com um solo de guitarra bem bacana do Jeff Beck). Já “I Want My Now” se perde no seu paradoxo de ser uma canção boba e “épica” ao mesmo tempo, e a soturna balada “Mr. Spider” parece uma sobra de um dos discos conceituais de Cooper.

E para não esquecer totalmente daquele velho espírito de “homenagem”, o grupo fornece aqui três novos covers, sendo que o destaque positivo fica para a versão deliciosa e muito bem azeitada de “Heroes” (David Bowie). O destaque negativo fica para “You Can't Put Your Arms Around a Memory” (Johnny Thunders), em que Joe Perry canta como alguém que acabou de tomar rivotril.

No fim, “Rise” é um disco que, com o perdão do trocadilho, consegue elevar efetivamente o Hollywood Vampires para a sua própria identidade sonora. Ainda que essa banda não seja superior aos trampos principais de Alice Cooper e Joe Perry, pelo menos representa um “desvio” para um ambiente cheio de novas aventuras e confusões roqueiras. Se o Johnny Depp voltou a ser um garoto deslumbrado, por tocar guitarra ao lado dos seus heróis, nós também podemos embarcar nessa inocente viagem...

Nota: 7

Por Fábio Cavalcanti

Músicas:
1. I Want My Now
2. Good People Are Hard to Find [vinheta]
3. Who's Laughing Now
4. How the Glass Fell [vinheta]
5. The Boogieman Surprise
6. Welcome to Bushwackers
7. The Wrong Bandage [vinheta]
8. You Can't Put Your Arms Around a Memory [cover de Johnny Thunders]
9. Git From Round Me
10. Heroes [cover de David Bowie]
11. A Pitiful Beauty [vinheta]
12. New Threat
13. Mr. Spider
14. We Gotta Rise
15. People Who Died [cover de Jim Carroll]
16. Congratulations