14 de agosto de 2024

Resenha: "ALIEN - ROMULUS" [sem spoilers]


”Alien: Romulus” (2024) confirma a deterioração da franquia de sci-fi e terror “Alien”? Ao longo de seis filmes, já vimos: um início cheio de suspense "Lovecraftiano", as naves ou outros recintos claustrofóbicos, as conexões entre aqueles sanguinários monstros xenomorfos e os perigos sexuais, parasitários, tecnológicos e militares, além de questões de matriarcado, redenções, e até umas pretensiosas filosofias acerca da "Criação". Esse 7º filme, dirigido por Fede Alvarez, concebe surpresas através de reciclagens…

Ambientada após os eventos do primeiro filme, “Alien - O 8º Passageiro” (Ridley Scott, 1979), e antes do também clássico  “Aliens: O Resgate” (James Cameron, 1986), eis a nova e isolada trama: cinco jovens trabalhadores de uma colonização espacial tentam utilizar um androide e uma nave para se libertarem da gananciosa corporação Weyland-Yutani, e logo se deparam com os brutais xenomorfos. Há ainda certo subtexto posterior que soa mais lógico e menos maniqueísta aqui do que no discutível “Alien - A Ressurreição”.

Alvarez foi fiel ao legado dos dois filmes aclamados, algo reiterado por um desenvolvimento gradativo até as aparições das criaturas, pelo roteiro direto e com propositais pontas soltas, pelo vasto uso de efeitos práticos, e pela deleitosa reutilização da estética de “futurismo como imaginado por cineastas dos anos 70 e 80”. Já as sutis influências de filmes de irmandade ou “de assalto”, e o recorrente recurso “silêncio seguido de barulho e violência”, salientam o objetivo forte de atrair um público jovem.

O destaque do elenco é David Jonsson, que interpreta o androide mais relacionável da franquia. Os personagens de Cailee Spaeny, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn e Aileen Wu, são reais na medida certa, embora possamos deduzir quem sobreviverá no final. Certo lugar-comum da ação final de quase todos os filmes da saga - menos do subestimado “Alien 3” - ainda persiste, agora de forma criativa e novamente impactante. Outra cena que vai te arrepiar, é a que envolve o sangue ácido alienígena em microgravidade.

Em ”Alien: Romulus”, todo um paralelismo de propostas é executado de forma concisa e fluida. O iniciante será atraído aos 'facehuggers', aos xenomorfos, e a toda aquela junção de suspense, ação e terror. O veterano preferirá as admiráveis imersões antiquadas, e as referências aos pontos e mensagens dos filmes anteriores - o que inclui ainda uma boa e breve menção à ‘prequel’ “Prometheus”. Se esse filme é um teste isolado para tentar reabrir o “Alienverso”, sua qualidade ficou não menos do que primorosa…

Nota: 9

Por Fábio Cavalcanti

1 de agosto de 2024

Resenha: "JACK WHITE - NO NAME"

Jack White lançou o álbum “No Name” (2024) de surpresa, em poucos discos de vinil, e depois o disponibilizou nos ‘streamings’ e afins. Aqui, ele manteve a sua claudicante voz anasalada, intensificou os atributos antiquados das suas guitarras (o 'Whammy', o 'Fuzz', as velhas pentatônicas, etc.), e bolou uma versão quase sofisticada do “punk blues” do seu antigo duo The White Stripes. É uma evoluída volta às raízes, ou uma falta de criatividade?

O estadunidense disparou uns conselhos rancorosos, e bebeu do blues rock setentista do Led Zeppelin, na ótima faixa de abertura “Old Scratch Blues”. A excelente “Bless Yourself” possui ironias à extrapolação do amor próprio, e seu peso evoca aquele Black Sabbath ainda “proto-metal”. “That's How I'm Feeling” tem cara de single, e é um paradoxo: letras sobre solidão, e ritmo dançante de ‘garage rock’. Turbilhões mentais que podem nos ocorrer após uma desilusão, dão a tônica no “proto-punk” ruidoso e alucinado de “Bombing Out”.

Algo de Jon Spencer Blues Explosion aparece em duas faixas: “It's Rough on Rats (If You're Asking)”, na qual um senso de pessimismo universal é conduzido por grooves e ‘slides’ de guitarra incomuns, e a sensacional “Archbishop Harold Holmes”, na qual o artista nos faz “marchar” quando incorpora - de forma meio ‘rapper’ - um falso e exaltado líder religioso. O grudento e às vezes “Stoneano” hard rock “Tonight (Was a Long Time Ago)” aborda nostalgias de amor ou sexo, e o rock garageiro “Missionary” nos diverte quando White banca um sedutor neurótico…

Os medos desse veterano quanto às manipulações que ocorrem na atual era das pós-verdades, aparecem entre as melodias sombrias de “What's the Rumpus?”, entre as harmonias esquisitas e os ‘slides’ meio country de “Underground”, e entre os arranjos velozes de “Number One With a Bullet”. “Morning at Midnight” é um vibrante chamado aos notívagos. E “Terminal Archenemy Endling”, com suas oscilações "Zeppelianas" e o tema sobre carências e novos aprendizados, é um impactante encerramento…

Em seu 6º álbum solo, “No Name” (2024), Jack White confirmou que sempre existirá a chance de um músico conceber canções criativas de um enérgico e ansioso rock alternativo, ao utilizar velhas influências, velhos timbres, e produção rústica. Esse tal “álbum surpresa” já é um candidato a figurar entre os melhores trabalhos do prolífico Jack!

Nota: 9

Por Fábio Cavalcanti

Músicas:
1. Old Scratch Blues
2. Bless Yourself
3. That's How I'm Feeling
4. It's Rough on Rats (If You're Asking)
5. Archbishop Harold Holmes
6. Bombing Out
7. What's the Rumpus?
8. Tonight (Was a Long Time Ago)
9. Underground
10. Number One With a Bullet
11. Morning at Midnight
12. Missionary
13. Terminal Archenemy Endling