Existe algo mais intrigante no
heavy metal do que uma banda mandando um “so long, suckers” para seus fãs
saudosistas? O Sepultura não cansa de fazer isso desde que iniciou sua fase com
o cantor Derrick Green, em 1998. Os fãs da fase com o Max (e Igor) Cavalera ainda
esperam por um retorno do quarteto mineiro ao thrash metal tradicional dos anos
80 e início dos anos 90, algo que não acontece – mais uma vez – no seu novo e
ambicioso trabalho: “Quadra” (2020).
A ótima faixa de abertura
“Isolation” é um thrash que une uma essência à la “Arise” (1991) a toques
progressivos. Aqui temos o pesado início desse disco conceitual dividido em
quatro partes. Em termos de letras, o álbum todo trata de subdivisões geradas
por padrões econômicos, político-sociais e religiosos, e sobre a forma como
todas as regras limitantes se encontram numa grande encruzilhada - representada
aqui pelas tais quatro partes. Em suma, estamos todos aprisionados e ferrados.
Dando continuidade, a
excelente “Means to an End” é intrincada, possui uma destreza absurda por parte
do baterista Eloy Casagrande, e nos convida para uma bela festa no apocalipse.
E a também excelente “Last Time” evoca mais uma vez alguns elementos
oitentistas para uni-los a um inesperado e bem sacado interlúdio sinfônico.
Aqui se encerra a primeira parte...
A segunda parte é mais
suingada e se inicia com outra faixa excepcional: “Capital Enslavement”, um
groove metal que unifica as essências dos álbuns “Roots” (1996) e “Machine
Messiah” (2017), e com uma mensagem em sua letra que pode gerar boas tretas.
Destaco também a ótima “Raging Void”, uma pedrada quase experimental, provida
de um ritmo diferenciado que vai entortar a sua cabeça na primeira audição.
As duas partes seguintes
funcionam como uma só, pois apresentam o lado mais diversificado dos caras. O
razoável metal sinfônico “Guardians of Earth” possui letras e melodias que evocam
uma odisseia esquisita. O quase fusion metal “The Pentagram” é um instrumental
percussivo e poderoso, e que destaca a guitarra do Andreas. No ato final, boas faixas
sombrias e mais cadenciadas: a quase gótica e cinemática “Agony of Defeat”, e o
metal alternativo “Fear, Pain, Chaos, Suffering” (com vocais competentes de Emmily
Barreto, do Far From Alaska).
“Quadra” é o álbum que eleva a
progressividade do “Machine Messiah” à estratosfera. Esse é um dos discos mais multifacetados
de Andreas Kisser e sua trupe, e que também nos brinda com uma das mais hipnóticas
performances vocais do Derrick... além dos ritmos variados e às vezes tribais
do Eloy. O quadrívio thrash metal do Sepultura chegou, e deve ser escutado com
atenção!
Nota: 9
Por Fábio Cavalcanti
Músicas:
1. Isolation2. Means to an End
3. Last Time
4. Capital Enslavement
5. Ali
6. Raging Void
7. Guardians of Earth
8. The Pentagram
9. Autem
10. Quadra [vinheta]
11. Agony of Defeat
12. Fear, Pain, Chaos, Suffering