7 de fevereiro de 2020

Resenha: "SEPULTURA - QUADRA" (2020)



Existe algo mais intrigante no heavy metal do que uma banda mandando um “so long, suckers” para seus fãs saudosistas? O Sepultura não cansa de fazer isso desde que iniciou sua fase com o cantor Derrick Green, em 1998. Os fãs da fase com o Max (e Igor) Cavalera ainda esperam por um retorno do quarteto mineiro ao thrash metal tradicional dos anos 80 e início dos anos 90, algo que não acontece – mais uma vez – no seu novo e ambicioso trabalho: “Quadra” (2020).

A ótima faixa de abertura “Isolation” é um thrash que une uma essência à la “Arise” (1991) a toques progressivos. Aqui temos o pesado início desse disco conceitual dividido em quatro partes. Em termos de letras, o álbum todo trata de subdivisões geradas por padrões econômicos, político-sociais e religiosos, e sobre a forma como todas as regras limitantes se encontram numa grande encruzilhada - representada aqui pelas tais quatro partes. Em suma, estamos todos aprisionados e ferrados.

Dando continuidade, a excelente “Means to an End” é intrincada, possui uma destreza absurda por parte do baterista Eloy Casagrande, e nos convida para uma bela festa no apocalipse. E a também excelente “Last Time” evoca mais uma vez alguns elementos oitentistas para uni-los a um inesperado e bem sacado interlúdio sinfônico. Aqui se encerra a primeira parte...

A segunda parte é mais suingada e se inicia com outra faixa excepcional: “Capital Enslavement”, um groove metal que unifica as essências dos álbuns “Roots” (1996) e “Machine Messiah” (2017), e com uma mensagem em sua letra que pode gerar boas tretas. Destaco também a ótima “Raging Void”, uma pedrada quase experimental, provida de um ritmo diferenciado que vai entortar a sua cabeça na primeira audição.

As duas partes seguintes funcionam como uma só, pois apresentam o lado mais diversificado dos caras. O razoável metal sinfônico “Guardians of Earth” possui letras e melodias que evocam uma odisseia esquisita. O quase fusion metal “The Pentagram” é um instrumental percussivo e poderoso, e que destaca a guitarra do Andreas. No ato final, boas faixas sombrias e mais cadenciadas: a quase gótica e cinemática “Agony of Defeat”, e o metal alternativo “Fear, Pain, Chaos, Suffering” (com vocais competentes de Emmily Barreto, do Far From Alaska).

“Quadra” é o álbum que eleva a progressividade do “Machine Messiah” à estratosfera. Esse é um dos discos mais multifacetados de Andreas Kisser e sua trupe, e que também nos brinda com uma das mais hipnóticas performances vocais do Derrick... além dos ritmos variados e às vezes tribais do Eloy. O quadrívio thrash metal do Sepultura chegou, e deve ser escutado com atenção!

Nota: 9

Por Fábio Cavalcanti

Músicas:
1. Isolation
2. Means to an End
3. Last Time
4. Capital Enslavement
5. Ali
6. Raging Void
7. Guardians of Earth
8. The Pentagram
9. Autem
10. Quadra [vinheta]
11. Agony of Defeat
12. Fear, Pain, Chaos, Suffering

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