15 de julho de 2024

Resenha: "TRAVIS - L.A. TIMES"


Surgido na Escócia, o quarteto Travis fez sua contribuição ao 'britpop' do final dos anos 90, com canções como "Why Does It Always Rain On Me?" e "Sing". Fran Healy, dono de uma voz belamente franzina ou sussurrada, burilou um 'alt-rock' que puxava o lado semi acústico e melancólico do Oasis, Teenage Fanclub, R.E.M., e afins, e assim inspirou também o Coldplay inicial. Analisemos agora o seu 10º álbum, “L.A. Times” (2024).

Healy cita o novo trabalho como bastante pessoal, o que explica sua produção à la “Beck influenciado pelo Big Star” e o certo abafamento nos arranjos minimalistas dos seus companheiros Payne, Dunlop e Primrose. “Bus”, faixa que tem metáforas óbvias sobre a espera por mudanças positivas, é um quase esquecível “indie folk/rock”. A razoável “Raze The Bar”, uma homenagem aos coloridos e efêmeros bares, possui um mix de melodias grudentas, temperos soul, e uma sutil participação de Chris Martin e Brandon Flowers.

As coisas melhoram nos falsetes e dedilhados de “Live It All Again”, uma singela canção acústica que nos incentiva a valorizar as boas lembranças após um término de relacionamento. A chamativa “Gaslight” tem uma letra inquieta e sardônica sobre abusos psicológicos, e sua abordagem - com uns instrumentos de sopro - evoca os rocks “bastante britânicos” do The Kinks. A ótima “Alive” enaltece a nossa tenacidade frente ao tempo, e seus pontinhos soturnos lembram os tempos do álbum "The Invisible Band"...

Conselhos paternais, e uma base de "hip hop soul", não engatam uma centelha efetiva à faixa “Home”. A malemolente “I Hope That You Spontaneously Combust”, que ironiza as tóxicas redes sociais, soaria bem no Tik Tok. O folk “Naked In New York City”, com o seu bom ‘feeling’ no tema de inseguranças, parece uma sobra do cultuado álbum "The Man Who". “The River” traz novos conselhos paternais de superação, catarses na performance, e boas melodias escocesas.

“L.A. Times” é encerrado por uma faixa-título que descreve o lado obscuro de Los Angeles, com uns bizarros versos de “rap branquelo” que não minam por completo sua atrativa melancolia noturna. Assim, ao fim de breves 32 minutos, notamos nesse álbum um Travis ainda escutável, às vezes corajoso, e definitivamente distante do espírito “loser” que resultou nas doloridas e maravilhosas músicas dos seus primeiros anos…

Nota: 6

Por Fábio Cavalcanti

Músicas:
1. Bus
2. Raze The Bar
3. Live It All Again
4. Gaslight
5. Alive
6. Home
7. I Hope That You Spontaneously Combust
8. Naked In New York City
9. The River
10. L.A. Times