27 de maio de 2019

Resenha: "ROCKETMAN" (2019) [sem spoilers]


Cinebiografias de músicos famosos costumam seguir uma espécie de roteiro padronizado, visto que a maioria das histórias reais envolve os atos da ascensão, queda e redenção do artista. “Rocketman” (2019), filme sobre o cantor britânico Elton John, não é diferente... mas uma coisa é certa: a obra segue suas próprias regras narrativas, e nos brinda com um bem-vindo diferencial em um segmento cinematográfico que sempre trouxe irregularidades - mesmo após o recente sucesso de um discutível filme sobre uma certa banda...

Ao invés de um mero drama com passagens “burocráticas”, o diretor Dexter Fletcher entrega aqui um quase legítimo musical, no qual as letras, ritmos e melodias das icônicas canções de Elton John conseguem expor boa parte da história e do emocional do protagonista. Essa hipnótica metalinguagem - que às vezes beira o surreal e onírico - resulta numa experiência sensorial que nos faz esquecer de problematizar aquelas pequenas inconsistências históricas e cronológicas que nunca deixarão de existir no cinema “baseado em fatos reais”.

De toda forma, o elemento humano é o principal aqui, primeiramente pelo fato de Taron Egerton fazer uma atuação sensacional como Elton John! O jovem ator traz o pacote completo:  as demonstrações de talento quase sobrenatural do cantor/pianista, o seu carisma incomum, os momentos de carência (ou pura babaquice), a homossexualidade sem pudores, e o ‘mix’ de pompa e glamour que o artista praticamente injetou em suas próprias veias – juntamente com as drogas - quando se reinventou para adentrar o showbusiness.

Felizmente, os outros personagens não ficam apenas gravitando em torno do protagonista. Jamie Bell faz o compositor Bernie Taupin com uma profundidade que nos leva a acreditar de verdade na amizade e química musical que existiu entre os dois. Bryce Dallas Howard também possui seus momentos como a ambígua e imprevisível mãe de Elton – e podem ter certeza de que há uma surpreendente fuga do clichê na forma como o arco familiar do cantor é finalizado.

Apesar de alguns excessos caricatos aqui e ali, “Rocketman” é uma envolvente profusão de canções bem utilizadas, cores e figurinos autoexplicativos, drama comovente, irreverência pitoresca, e... enfim, legítimas cafonices “eltonjonianas”. Muito além da sua capacidade imersiva, o filme mantém a humanidade no centro do palco, e prova que podemos nos reinventar da forma que quisermos, desde que consigamos nos calibrar ao longo da nossa jornada de crescimento e amadurecimento. Sejamos fabulosos “foguetes” como Elton John!

Nota: 9

Por Fábio Cavalcanti

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