3 de setembro de 2024

Resenha: "OS FANTASMAS AINDA SE DIVERTEM - BEETLEJUICE BEETLEJUICE" [sem spoilers]


Tim Burton pode ser considerado decadente, por quem há anos sente falta de uma veia anárquica em sua típica mistura do sombrio com o lúdico. O novo filme desse peculiar diretor, ”Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice” (2024), é a continuação de “Os Fantasmas se Divertem”, de 1988. Aquela velha mensagem de afeição por indivíduos desajustados, e de perspectivas de uma louca vida após a morte, foi novamente alinhada às malandragens de um dos fantasmas mais lunáticos do cinema.

Enredo: três gerações da família Deetz visitam o velho casarão após uma tragédia, e assim o fantasma Beetlejuice tenta manipulá-los. Esse vilanesco sujeito, interpretado por um Michael Keaton maliciosamente “jovial”, teve então algo do seu passado revelado - o que envolve a sinistra personagem da Monica Bellucci -, mas ainda continua dando as caras apenas quando necessário. A personagem de Winona Ryder, agora mãe, ainda parece uma relacionável garota estranha, e a Catherine O'Hara se destaca como uma avó irreverente.

O roteiro, um tanto inchado em tramas paralelas, não favorece a aborrecida filha interpretada por Jenna Ortega. Algumas passagens, sempre envolvendo essa personagem ou outros três estreantes (Theroux, Conti, e Gorman), parecem pertencer a um filme diferente e menos interessante. Já Willem Dafoe, como um metalinguístico “ator policial fantasma”, é uma ótima surpresa. Tais confusões de roteiro não comprometem tanto o todo, e o ato final possui divertidíssimos absurdos que são o suco da imaginação de Burton…

”Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice” é um filme no qual Tim Burton voltou a juntar a comédia de humor negro, a fantasia cartunesca, os terrores do “gótico”, de “exorcismo”, e de “casa mal assombrada”, e suas estéticas distorcidas ou manufaturadas. Entre cores, pontos sombrios, e referências culturais que os novos espectadores não entenderão, o fato é que o nível de balbúrdia por parte da narrativa e do imoral Beetlejuice de Keaton, são aqui quase os mesmos do filme original. Digam o nome três vezes…

Nota: 8

Por Fábio Cavalcanti

14 de agosto de 2024

Resenha: "ALIEN - ROMULUS" [sem spoilers]


”Alien: Romulus” (2024) confirma a deterioração da franquia de sci-fi e terror “Alien”? Ao longo de seis filmes, já vimos: um início cheio de suspense "Lovecraftiano", as naves ou outros recintos claustrofóbicos, as conexões entre aqueles sanguinários monstros xenomorfos e os perigos sexuais, parasitários, tecnológicos e militares, além de questões de matriarcado, redenções, e até umas pretensiosas filosofias acerca da "Criação". Esse 7º filme, dirigido por Fede Alvarez, concebe surpresas através de reciclagens…

Ambientada após os eventos do primeiro filme, “Alien - O 8º Passageiro” (Ridley Scott, 1979), e antes do também clássico  “Aliens: O Resgate” (James Cameron, 1986), eis a nova e isolada trama: cinco jovens trabalhadores de uma colonização espacial tentam utilizar um androide e uma nave para se libertarem da gananciosa corporação Weyland-Yutani, e logo se deparam com os brutais xenomorfos. Há ainda certo subtexto posterior que soa mais lógico e menos maniqueísta aqui do que no discutível “Alien - A Ressurreição”.

Alvarez foi fiel ao legado dos dois filmes aclamados, algo reiterado por um desenvolvimento gradativo até as aparições das criaturas, pelo roteiro direto e com propositais pontas soltas, pelo vasto uso de efeitos práticos, e pela deleitosa reutilização da estética de “futurismo como imaginado por cineastas dos anos 70 e 80”. Já as sutis influências de filmes de irmandade ou “de assalto”, e o recorrente recurso “silêncio seguido de barulho e violência”, salientam o objetivo forte de atrair um público jovem.

O destaque do elenco é David Jonsson, que interpreta o androide mais relacionável da franquia. Os personagens de Cailee Spaeny, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn e Aileen Wu, são reais na medida certa, embora possamos deduzir quem sobreviverá no final. Certo lugar-comum da ação final de quase todos os filmes da saga - menos do subestimado “Alien 3” - ainda persiste, agora de forma criativa e novamente impactante. Outra cena que vai te arrepiar, é a que envolve o sangue ácido alienígena em microgravidade.

Em ”Alien: Romulus”, todo um paralelismo de propostas é executado de forma concisa e fluida. O iniciante será atraído aos 'facehuggers', aos xenomorfos, e a toda aquela junção de suspense, ação e terror. O veterano preferirá as admiráveis imersões antiquadas, e as referências aos pontos e mensagens dos filmes anteriores - o que inclui ainda uma boa e breve menção à ‘prequel’ “Prometheus”. Se esse filme é um teste isolado para tentar reabrir o “Alienverso”, sua qualidade ficou não menos do que primorosa…

Nota: 9

Por Fábio Cavalcanti

1 de agosto de 2024

Resenha: "JACK WHITE - NO NAME"

Jack White lançou o álbum “No Name” (2024) de surpresa, em poucos discos de vinil, e depois o disponibilizou nos ‘streamings’ e afins. Aqui, ele manteve a sua claudicante voz anasalada, intensificou os atributos antiquados das suas guitarras (o 'Whammy', o 'Fuzz', as velhas pentatônicas, etc.), e bolou uma versão quase sofisticada do “punk blues” do seu antigo duo The White Stripes. É uma evoluída volta às raízes, ou uma falta de criatividade?

O estadunidense disparou uns conselhos rancorosos, e bebeu do blues rock setentista do Led Zeppelin, na ótima faixa de abertura “Old Scratch Blues”. A excelente “Bless Yourself” possui ironias à extrapolação do amor próprio, e seu peso evoca aquele Black Sabbath ainda “proto-metal”. “That's How I'm Feeling” tem cara de single, e é um paradoxo: letras sobre solidão, e ritmo dançante de ‘garage rock’. Turbilhões mentais que podem nos ocorrer após uma desilusão, dão a tônica no “proto-punk” ruidoso e alucinado de “Bombing Out”.

Algo de Jon Spencer Blues Explosion aparece em duas faixas: “It's Rough on Rats (If You're Asking)”, na qual um senso de pessimismo universal é conduzido por grooves e ‘slides’ de guitarra incomuns, e a sensacional “Archbishop Harold Holmes”, na qual o artista nos faz “marchar” quando incorpora - de forma meio ‘rapper’ - um falso e exaltado líder religioso. O grudento e às vezes “Stoneano” hard rock “Tonight (Was a Long Time Ago)” aborda nostalgias de amor ou sexo, e o rock garageiro “Missionary” nos diverte quando White banca um sedutor neurótico…

Os medos desse veterano quanto às manipulações que ocorrem na atual era das pós-verdades, aparecem entre as melodias sombrias de “What's the Rumpus?”, entre as harmonias esquisitas e os ‘slides’ meio country de “Underground”, e entre os arranjos velozes de “Number One With a Bullet”. “Morning at Midnight” é um vibrante chamado aos notívagos. E “Terminal Archenemy Endling”, com suas oscilações "Zeppelianas" e o tema sobre carências e novos aprendizados, é um impactante encerramento…

Em seu 6º álbum solo, “No Name” (2024), Jack White confirmou que sempre existirá a chance de um músico conceber canções criativas de um enérgico e ansioso rock alternativo, ao utilizar velhas influências, velhos timbres, e produção rústica. Esse tal “álbum surpresa” já é um candidato a figurar entre os melhores trabalhos do prolífico Jack!

Nota: 9

Por Fábio Cavalcanti

Músicas:
1. Old Scratch Blues
2. Bless Yourself
3. That's How I'm Feeling
4. It's Rough on Rats (If You're Asking)
5. Archbishop Harold Holmes
6. Bombing Out
7. What's the Rumpus?
8. Tonight (Was a Long Time Ago)
9. Underground
10. Number One With a Bullet
11. Morning at Midnight
12. Missionary
13. Terminal Archenemy Endling

19 de julho de 2024

Resenha: "DEEP PURPLE - =1"


Há quem diga que o Deep Purple já deveria ter se aposentado, como se bastasse o fato dessa banda britânica ter feito parte da turma setentista que solidificou o hard rock e o heavy metal, ou como se bastassem o hit “Smoke on the Water” e os álbuns “In Rock” e “Machine Head”. Quem abrir a mente, encontrará ao menos um pouco de revitalização enérgica no 23º álbum dos velhinhos: “=1” (2024), o 5º com a produção polida do Bob Ezrin.

Ian Gillan brincou mais com as métricas e outras possibilidades da sua desgastada voz anasalada, e ousou soar jovial e malandro em muitas das novas letras. Ian Paice continuou fazendo rufar as suas sempre frescas variações de bateria. Roger Glover fez o seu baixo “jogar para o grupo”. Don Airey elaborou teclados mais exóticos e menos reminiscentes do saudoso Jon Lord. Já o novo guitarrista Simon McBride, desprovido da autenticidade dos ex-membros Ritchie Blackmore e Steve Morse, criou riffs e solos firmes…

“Show Me”, “A Bit on the Side”, e “Sharp Shooter”, são uma ótima entrada: voz maliciosa, letras safadas, peso cadenciado ou suíngue pulsante, e o início das conversações entre guitarras e teclados. “Portable Door” possui uma letra enigmática sobre o ato de evitarmos aporrinhações, e remete à 'bluesy' e melódica "Pictures of Home". “Old-Fangled Thing” é um boogie rock sensual, acelerado, e dotado de pequenas surpresas estruturais. A lenta e linda “If I Were You”, que aborda a resignação, recupera o ‘feeling’ da fase do Morse.

“Pictures of You”, uma crítica às atuais falsas aparências, pode soar estranha em termos de harmonias. “I'm Saying Nothin'”, boa ode ao silêncio, passará batida para muita gente. A excelente “Lazy Sod”, que aborda a preguiça frente a problemas mundiais, parece um blues rock do "Fireball". A veloz e arrepiante “Now You're Talkin'” traz os turbilhões mentais e uns berros inesperados do Gillan. “No Money to Burn”, com o seu otimismo brincalhão, soaria bem num bar. A lenta e afetiva “I'll Catch You” é embebida por vocais e solos “doloridos”…

Por fim, o hard rock progressivo e intrincado “Bleeding Obvious” nos incentiva, paradoxalmente, a encararmos com simplicidade o nosso mundo complicado. E então, após a conclusão desse álbum “=1”, me ocorreu a pergunta: existe tesão na terceira idade? Através de 13 dignas canções, o Deep Purple respondeu positivamente, e exigiu que esqueçamos por ora a sua própria idade. Vida “longa” para eles, e para todos nós!

Nota: 8

Por Fábio Cavalcanti

Músicas:
1. Show Me
2. A Bit on the Side
3. Sharp Shooter
4. Portable Door
5. Old-Fangled Thing
6. If I Were You
7. Pictures of You
8. I'm Saying Nothin'
9. Lazy Sod
10. Now You're Talkin'
11. No Money to Burn
12. I'll Catch You
13. Bleeding Obvious

15 de julho de 2024

Resenha: "TRAVIS - L.A. TIMES"


Surgido na Escócia, o quarteto Travis fez sua contribuição ao 'britpop' do final dos anos 90, com canções como "Why Does It Always Rain On Me?" e "Sing". Fran Healy, dono de uma voz belamente franzina ou sussurrada, burilou um 'alt-rock' que puxava o lado semi acústico e melancólico do Oasis, Teenage Fanclub, R.E.M., e afins, e assim inspirou também o Coldplay inicial. Analisemos agora o seu 10º álbum, “L.A. Times” (2024).

Healy cita o novo trabalho como bastante pessoal, o que explica sua produção à la “Beck influenciado pelo Big Star” e o certo abafamento nos arranjos minimalistas dos seus companheiros Payne, Dunlop e Primrose. “Bus”, faixa que tem metáforas óbvias sobre a espera por mudanças positivas, é um quase esquecível “indie folk/rock”. A razoável “Raze The Bar”, uma homenagem aos coloridos e efêmeros bares, possui um mix de melodias grudentas, temperos soul, e uma sutil participação de Chris Martin e Brandon Flowers.

As coisas melhoram nos falsetes e dedilhados de “Live It All Again”, uma singela canção acústica que nos incentiva a valorizar as boas lembranças após um término de relacionamento. A chamativa “Gaslight” tem uma letra inquieta e sardônica sobre abusos psicológicos, e sua abordagem - com uns instrumentos de sopro - evoca os rocks “bastante britânicos” do The Kinks. A ótima “Alive” enaltece a nossa tenacidade frente ao tempo, e seus pontinhos soturnos lembram os tempos do álbum "The Invisible Band"...

Conselhos paternais, e uma base de "hip hop soul", não engatam uma centelha efetiva à faixa “Home”. A malemolente “I Hope That You Spontaneously Combust”, que ironiza as tóxicas redes sociais, soaria bem no Tik Tok. O folk “Naked In New York City”, com o seu bom ‘feeling’ no tema de inseguranças, parece uma sobra do cultuado álbum "The Man Who". “The River” traz novos conselhos paternais de superação, catarses na performance, e boas melodias escocesas.

“L.A. Times” é encerrado por uma faixa-título que descreve o lado obscuro de Los Angeles, com uns bizarros versos de “rap branquelo” que não minam por completo sua atrativa melancolia noturna. Assim, ao fim de breves 32 minutos, notamos nesse álbum um Travis ainda escutável, às vezes corajoso, e definitivamente distante do espírito “loser” que resultou nas doloridas e maravilhosas músicas dos seus primeiros anos…

Nota: 6

Por Fábio Cavalcanti

Músicas:
1. Bus
2. Raze The Bar
3. Live It All Again
4. Gaslight
5. Alive
6. Home
7. I Hope That You Spontaneously Combust
8. Naked In New York City
9. The River
10. L.A. Times

12 de julho de 2024

Resenha: "MR. BIG - TEN"


A banda estadunidense Mr. Big inseriu um hard rock tão virtuosístico quanto pop, no finalzinho da onda do “glam metal” oitentista. Seu breve sucesso ocorreu em 1991, através do álbum "Lean into It" e do hit "To Be With You". Em 2024, sem um dos seus membros clássicos, o quarteto lançou seu 10º álbum, “Ten”, e já anunciou outro término de atividades…

Eric Martin não escondeu os desgastes de alcance da sua distinta e arfante voz ‘soulful’. As melodiosas "fritações" do guitarrista Paul Gilbert, e os reconhecíveis 'tappings' do baixista Billy Sheehan, são usados aqui de forma econômica, e são amplificados apenas em trechos que abrilhantam até mesmo algumas das canções mais fracas do novo lote. O baterista Nick D'Virgilio incorporou bem as nuances 'fusion' do saudoso Pat Torpey. E claro, as boas harmonias vocais “retrôs” permanecem…

A ótima “Good Luck Trying” é de um humor autodepreciativo no tema da resiliência, e suas quebradeiras jazzistas homenageiam “Manic Depression”, do Jimi Hendrix. “I Am You” aborda a toxicidade recíproca de um relacionamento, e suga de um semi acústico power pop sessentista. “Right Outta Here”, uma ode às mulheres impiedosas, chama atenção por pontuais melodias exóticas. “Sunday Morning Kinda Girl” é um pop/rock 'bluesy', ensolarado, e bobamente amoroso. Já “Who We Are” é uma baladinha romântica genérica.

A violonista e apaixonada “As Good As It Gets” possui um groove cafona à la “The Who da fase pós Keith Moon". “What Were You Thinking” e “Up On You”, as favoritas deste que vos escreve, soam insinuantes ou malandras, e evocam o agitado rock 'n' roll do Aerosmith setentista. A cadenciada “Courageous” oferece otimismos e umas melodias básicas. A lenta e melancólica “The Frame” aborda o envelhecimento, e encerra os novos trabalhos de forma acertadamente comovente.

Os pontos altos de “Ten” são as eventuais músicas “hard/blues rockers” - incluindo a bônus “8 Days On The Road” (já gravada por Howard Tate, Aretha Franklin, e Foghat). Ainda assim, respeito a coragem desses veteranos de optarem por variações "Beatlenescas" e produção intimista ao invés da robustez sônica de outrora. Se você curtiu “Defying Gravity”, a despedida de Torpey, também apreciará esse bom “adeus” de Martin, Sheehan e Gilbert.

Nota: 7

Por Fábio Cavalcanti

Músicas:
1. Good Luck Trying
2. I Am You
3. Right Outta Here
4. Sunday Morning Kinda Girl
5. Who We Are
6. As Good As It Gets
7. What Were You Thinking
8. Courageous
9. Up On You
10. The Frame
11. 8 Days On The Road [faixa bônus]

5 de junho de 2024

Resenha: "BAD BOYS - ATÉ O FIM" [sem spoilers]


Desastre é o que define "Bad Boys: Até o Fim" (2024), visto que até os fãs do cinema 'blockbuster' dos anos 90 não imploravam por continuações do ensolarado filme "Bad Boys"? "Máquina Mortífera" e "48 Horas" já haviam concretizado o padrão do subgênero 'buddy cop': camaradagem e discussões acaloradas entre indivíduos opostos. Acompanhemos então a 4ª missão daqueles histriônicos policiais vividos por Will Smith e Martin Lawrence…

Pela segunda vez, os diretores Adil e Bilall acrescentaram vulnerabilidades da meia-idade a Mike (Smith) e Marcus (Lawrence), como as maiores possibilidades de morte, uns machucados intensos, e um novo transtorno psicológico. Continuam empolgantes também as melhorias quanto aos exageros do diretor original Michael Bay: as cenas de ação absurdas e visualmente estilosas, e a comédia de humor negro. A trama policial envolve uma armação contra os heróis, um tipo de clichê ainda meio inédito na franquia em questão.

O caos proposital na narrativa não deve ser levado a sério, da mesma forma que não precisaríamos de maiores desenvolvimentos dos personagens de Jacob Scipio, Eric Dane, Rhea Seehorn, Melanie Liburd, e outros... E caso você não aprecie com um sorriso bobo as divertidas destruições, os trechos “oníricos” com o saudoso personagem do Joe Pantoliano, a cena de um jacaré (“Racista!”), a reviravolta ‘badass’ de certo personagem antigo, ou a referência ao “tapa do Oscar” num ápice, estás velho demais para filmes de gênero…

"Bad Boys: Até o Fim" é outra sequência amplamente cativante, como foi também o filme anterior. A química de Will Smith e Martin Lawrence continua certeira e imoral, e tanto a ação frenética quanto os pontos de relações familiares não possuem os exageros crescentes de um "Velozes e Furiosos" ou a superficialidade excessiva dos dois “crássicos” da própria franquia. Curtam esse filme com pipoca e uma boa companhia, sem culpa.

Nota: 8

Por Fábio Cavalcanti

16 de maio de 2024

Resenha: "FURIOSA - UMA SAGA MAD MAX" [sem spoilers]


Os três primeiros filmes de ”Mad Max”, estrelados por Mel Gibson entre 1979 e 1985, rejeitavam os arquétipos de franquias. O diretor George Miller “nos atirava” num desértico futuro pós-apocalíptico, habitado por sobreviventes que buscam - muitas vezes em seus carros velozes - por vinganças, poder, ou redenção, em meio à escassez de recursos naturais… Já o novo filme, "Furiosa: Uma Saga Mad Max" (2024), é um pouco diferente…

O ‘reboot’ “Estrada da Fúria” (2015), no qual o Tom Hardy interpreta o Max, gerou uma curiosidade quanto a uma então estreante personagem: a determinada Imperator Furiosa, vivida por Charlize Theron. Nesse 5º trabalho, Miller conta a história de origem da guerreira supracitada. O mais importante sobre a jovem personagem, funciona: a atuação vigorosa de Anya Taylor-Joy no geral, e os momentos iniciais com a atriz mirim Alyla Browne.

Espectadores aficionados por roteiros corretinhos, ficarão satisfeitos com a forma como o novo filme explora grande parte dos pontos e personagens “meio soltos” do anterior, através de uma estrutura em capítulos que é sinuosa e paciente. Já o público “escapista” sentirá falta de reviravoltas mais chocantes e memoráveis, e também lamentará o fato de que ocorrem aqui apenas uma ou duas perseguições (uma delas impressionante) de carros…

Um dos dois vilões, que é o fanfarrão interpretado por Chris Hemsworth, consegue roubar a cena sempre que aparece, da mesma forma que toda a “mitologia meio faroeste” daquele universo continua imersiva. O cinéfilo do tipo degustador poderá se deleitar com as imagens e sons dos agora extensos momentos “silenciosos”, algo que salienta toda a questão existencial de como seria a vida numa Terra desolada.

Como história de origem, jornada do herói, e trama de vingança, num bom mix de ação turbinada e sci-fi, o "Furiosa: Uma Saga Mad Max" merece créditos pela tentativa de não ser um ‘prequel’ inútil. Quanto a uma avaliação que vá além do respeito à boa performance da Anya Taylor-Joy e a todo aquele esmero técnico, esse longo filme nos deixa mesmo é com vontade de revisitar a ainda convidativa “Estrada da Fúria”, se é que me entendem…

Nota: 7

Por Fábio Cavalcanti