Olá, pessoal
Meus 'tops' do ano de 2024, de música e cinema, estão disponíveis nos links abaixo, com pequenos comentários e notas para cada título. Desejo tudo de bom para todos vocês em 2025!
Top 10 - Álbuns
Top 20 - Músicas (playlist sem ordem)
Top 10 - Filmes
23 de dezembro de 2024
TOP 2024
1 de novembro de 2024
Resenha: "THE CURE - SONGS OF A LOST WORLD"
O The Cure não passa da auto-repetição desde os anos 90? Essa banda britânica, seminal na faceta lúgubre do rock alternativo desde o fim dos anos 70, cometeu um ou outro deslize, inclusive no seu agora penúltimo álbum (lançado há dezesseis anos). Em 2024, Robert Smith buscou uma redenção, ao colocar sua inigualável voz “lamurienta” e trepidante - ainda intacta -, e seus entrelaces de guitarras ecoantes com teclados imagéticos, nas oito novas canções que compõem o álbum “Songs of a Lost World”.
Esqueça aquele velho pós-punk dos caras, que remetia a Siouxsie e Joy Division. O arrastado rock gótico do novo trabalho possui: traços dos seus discos "Pornography", "Disintegration" e "Bloodflowers", um parentesco espiritual com o "Blackstar" de David Bowie, e teores "Floydianos”, sem soar realmente como nada que citei. A familiaridade aqui está nas marcas criadas por Smith, como as reverberações etéreas e o senso de espaço. As longas passagens instrumentais de certas músicas também chamam atenção…
A épica e excelente primeira faixa, "Alone", aborda a solidão e antecipação de algum fim, sendo que suas guitarrinhas e teclados conduzem uma combinação comovente de melodias do início ao fim. A também excelente "And Nothing Is Forever" sugere que alentemos uma pessoa em leito de morte, e possui um ar sinfônico e uma melancolia "ensolarada" que deixarão o Billy Corgan com inveja. A razoável "A Fragile Thing" tem a levada mais acessível do novo lote, e aborda as fragilidades do amor.
Paranoia e desafinidades inevitáveis, são descritas entre as dissonâncias e os teclados oitentistas da ótima "Warsong". "Drone:Nodrone", sobre esgotamento e desânimos, reexibe as guitarras 'wah-wah' caóticas e as marchas suingadas daquele The Cure que inspirou o rock industrial. O luto de Robert pela morte do seu irmão Richard, dá o tom da sinfônica, triste, e pouco lembrável "I Can Never Say Goodbye". Em seguida, o bom e agitado pós-punk "All I Ever Am" evoca a força destrutiva do tempo…
Poucos acordes, percussividade lenta e forte, baixo "gorduroso", e reflexões finais quanto à finitude da vida, fazem de "Endsong" uma longa e arrepiante elegia que encerra “Songs of a Lost World”. Ao contrário da sua própria morbidez, esse álbum do The Cure poderá reanimar quem sentia falta de um rock gótico ou artístico encharcado de sentimento e de atmosferas soturnas. Confortando e assombrando, Robert Smith deu a real: nessa vida, estamos sozinhos, e tudo o que teremos ao fim é apenas o nada.
Nota: 8
Esqueça aquele velho pós-punk dos caras, que remetia a Siouxsie e Joy Division. O arrastado rock gótico do novo trabalho possui: traços dos seus discos "Pornography", "Disintegration" e "Bloodflowers", um parentesco espiritual com o "Blackstar" de David Bowie, e teores "Floydianos”, sem soar realmente como nada que citei. A familiaridade aqui está nas marcas criadas por Smith, como as reverberações etéreas e o senso de espaço. As longas passagens instrumentais de certas músicas também chamam atenção…
A épica e excelente primeira faixa, "Alone", aborda a solidão e antecipação de algum fim, sendo que suas guitarrinhas e teclados conduzem uma combinação comovente de melodias do início ao fim. A também excelente "And Nothing Is Forever" sugere que alentemos uma pessoa em leito de morte, e possui um ar sinfônico e uma melancolia "ensolarada" que deixarão o Billy Corgan com inveja. A razoável "A Fragile Thing" tem a levada mais acessível do novo lote, e aborda as fragilidades do amor.
Paranoia e desafinidades inevitáveis, são descritas entre as dissonâncias e os teclados oitentistas da ótima "Warsong". "Drone:Nodrone", sobre esgotamento e desânimos, reexibe as guitarras 'wah-wah' caóticas e as marchas suingadas daquele The Cure que inspirou o rock industrial. O luto de Robert pela morte do seu irmão Richard, dá o tom da sinfônica, triste, e pouco lembrável "I Can Never Say Goodbye". Em seguida, o bom e agitado pós-punk "All I Ever Am" evoca a força destrutiva do tempo…
Poucos acordes, percussividade lenta e forte, baixo "gorduroso", e reflexões finais quanto à finitude da vida, fazem de "Endsong" uma longa e arrepiante elegia que encerra “Songs of a Lost World”. Ao contrário da sua própria morbidez, esse álbum do The Cure poderá reanimar quem sentia falta de um rock gótico ou artístico encharcado de sentimento e de atmosferas soturnas. Confortando e assombrando, Robert Smith deu a real: nessa vida, estamos sozinhos, e tudo o que teremos ao fim é apenas o nada.
Nota: 8
Por Fábio Cavalcanti
Músicas:
1. Alone
2. And Nothing Is Forever
3. A Fragile Thing
4. Warsong
5. Drone:Nodrone
6. I Can Never Say Goodbye
7. All I Ever Am
8. Endsong
1. Alone
2. And Nothing Is Forever
3. A Fragile Thing
4. Warsong
5. Drone:Nodrone
6. I Can Never Say Goodbye
7. All I Ever Am
8. Endsong
4 de outubro de 2024
Resenha: "COLDPLAY - MOON MUSIC"
O Coldplay decaiu por completo, com o seu “Moon Music” (2024)? Muitos farão essa pergunta após a audição deste álbum, quando relembrarem as qualidades do antigo rock alternativo desses britânicos: as emoções e falsetes do Chris Martin, e as “curvas melancólicas” que evocavam o melhor de Travis, Jeff Buckley e U2. A obra em questão dá continuidade temática ao "Music of the Spheres", e concede o mesmo pop/rock simplista, às vezes eletrônico, e “colorido”, que foi oficializado no “A Head Full of Dreams”.
A linda faixa-título é uma abertura que surpreende, graças a um canto sereno que combina com o tema sobre solidão, e aos seus pianos e sinfonias sutilmente cinemáticas. Já a genérica e agitadinha "Feelslikeimfallinginlove" (a primeira música de trabalho), dotada de um romantismo ingênuo, serve para atrair fãs de cantoras pop dos últimos quinze anos. "We Pray", um hip hop moderno e meio 'world music' que aborda - com quatro participações especiais - uma espiritualidade coletiva, é diferenciada e esquecível ao mesmo tempo…
Vozes lúdicas, um existencialismo cósmico nas letras, e um crescente que vai do semi acústico ao sinfônico, tornam a faixa "Jupiter" apenas curiosa. "Good Feelings", com a sua boba celebração amorosa, e sua vibe à la “Daft Punk comandado por Nile Rodgers”, é surpreendentemente a mais grudenta das canções “para pistas de dança” que o Coldplay já criou. A faixa descrita com um símbolo de arco-íris, chamada também de "Alien Hits/Alien Radio", é um bom e etéreo "pós shoegaze" dotado de otimismos mais pitorescos.
"IAAM" (leia-se "I Am A Mountain") tem metáforas motivacionais e arranjos que parecem ter vindo de um Imagine Dragons anêmico. "Aeterna", que aborda um tolo amor imortal, funcionará apenas nas dançantes ‘raves’ de DJs picaretas. A bonitinha "All My Love", sobre devoção em relacionamentos, puxa ao menos um pouco de Beatles e Elton John. "One World" encerra os trabalhos, com um aceitável convite à coexistência, e com uma instrumentação que vai ficando cada vez mais bela e imagética…
“Moon Music” é outro álbum pouco inspirado da plastificada fase pop do Coldplay. As melodias previsíveis, a pouca utilização de Buckland, Berryman e Champion, e as letras cheias de falsos “picos astrais” e vários “la la la” para os shows, fazem valer a piada clichê de que esses sons “parecem algo feito por uma IA”. As centelhas aqui que ao menos se aproximam dos sentimentos de álbuns como “Parachutes” e de canções como “Yellow” e “Viva La Vida”, são o melhor que podemos receber de Chris Martin e companhia agora.
Nota: 6
A linda faixa-título é uma abertura que surpreende, graças a um canto sereno que combina com o tema sobre solidão, e aos seus pianos e sinfonias sutilmente cinemáticas. Já a genérica e agitadinha "Feelslikeimfallinginlove" (a primeira música de trabalho), dotada de um romantismo ingênuo, serve para atrair fãs de cantoras pop dos últimos quinze anos. "We Pray", um hip hop moderno e meio 'world music' que aborda - com quatro participações especiais - uma espiritualidade coletiva, é diferenciada e esquecível ao mesmo tempo…
Vozes lúdicas, um existencialismo cósmico nas letras, e um crescente que vai do semi acústico ao sinfônico, tornam a faixa "Jupiter" apenas curiosa. "Good Feelings", com a sua boba celebração amorosa, e sua vibe à la “Daft Punk comandado por Nile Rodgers”, é surpreendentemente a mais grudenta das canções “para pistas de dança” que o Coldplay já criou. A faixa descrita com um símbolo de arco-íris, chamada também de "Alien Hits/Alien Radio", é um bom e etéreo "pós shoegaze" dotado de otimismos mais pitorescos.
"IAAM" (leia-se "I Am A Mountain") tem metáforas motivacionais e arranjos que parecem ter vindo de um Imagine Dragons anêmico. "Aeterna", que aborda um tolo amor imortal, funcionará apenas nas dançantes ‘raves’ de DJs picaretas. A bonitinha "All My Love", sobre devoção em relacionamentos, puxa ao menos um pouco de Beatles e Elton John. "One World" encerra os trabalhos, com um aceitável convite à coexistência, e com uma instrumentação que vai ficando cada vez mais bela e imagética…
“Moon Music” é outro álbum pouco inspirado da plastificada fase pop do Coldplay. As melodias previsíveis, a pouca utilização de Buckland, Berryman e Champion, e as letras cheias de falsos “picos astrais” e vários “la la la” para os shows, fazem valer a piada clichê de que esses sons “parecem algo feito por uma IA”. As centelhas aqui que ao menos se aproximam dos sentimentos de álbuns como “Parachutes” e de canções como “Yellow” e “Viva La Vida”, são o melhor que podemos receber de Chris Martin e companhia agora.
Nota: 6
Por Fábio Cavalcanti
Músicas:
1. Moon Music
2. Feelslikeimfallinginlove
3. We Pray
4. Jupiter
5. Good Feelings
6. (símbolo de arco-íris) (Alien Hits/Alien Radio)
7. IAAM
8. Aeterna
9. All My Love
10. One World
1. Moon Music
2. Feelslikeimfallinginlove
3. We Pray
4. Jupiter
5. Good Feelings
6. (símbolo de arco-íris) (Alien Hits/Alien Radio)
7. IAAM
8. Aeterna
9. All My Love
10. One World
1 de outubro de 2024
Resenha: "CORINGA - DELÍRIO A DOIS" [sem spoilers]
Frustração será o sentimento quanto a “Coringa: Delírio a Dois” (2024), por parte dos cinéfilos que interpretaram o filme “Coringa” (2019) como um grande manifesto político ou como uma “história de origem” que deveria culminar depois no icônico supervilão da DC como o conhecemos. Além da ideia de que um monstro pode ascender perante uma sociedade indiferente a transtornos mentais, essa nova empreitada do diretor Todd Phillips confirmou o hermetismo ousado e a melancolia devastadora do seu próprio universo.
Dotado de suspense psicológico, dramas de prisão e tribunal, e números musicais, eis o enredo: Arthur Fleck está preso no Asilo Arkham, e se apaixona pela sua admiradora Arlequina enquanto aguarda um julgamento. Joaquin Phoenix fez de “Fleck/Coringa” um ser ainda multifacetado e imprevisível em estabilidade emocional, o que justifica essa segunda história. Lady Gaga, como uma Arlequina que esconde um segredo final, acaba ficando irregularmente sóbria ou esquisita segundo o desenrolar do roteiro.
Os números musicais são uma ponte narrativa para os delírios de Fleck, e são acertadamente “crus” em termos de vocais e estética, ainda que os pontos de vista do casal principal nessas partes fiquem confusos às vezes. Tal elemento desperta inclusive outro subtexto, ligado tanto àquela Gotham - ou E.U.A. em geral - dos anos 1980 quanto à nossa atualidade: o circo gerado pelo sensacionalismo, que pode resultar em obsessões perigosas. O ato final também possui cenas que causam impacto, estejam preparados…
Ao ignorar outra vez a regra de ser fiel às HQs originais, e ao conduzir um roteiro no qual até a inquietante química entre Joaquin Phoenix e Lady Gaga nos lembra de que o personagem central não deve ser romantizado, Todd Phillips fez de “Coringa: Delírio a Dois” um filme também “desbotado” e mais surpreendentemente perturbador do que o primeiro. Para quem na verdade é apenas um indivíduo perdido ou perdedor, ao invés de um super-herói ou supervilão, aceitar a realidade dói menos… ou não.
Nota: 9
Dotado de suspense psicológico, dramas de prisão e tribunal, e números musicais, eis o enredo: Arthur Fleck está preso no Asilo Arkham, e se apaixona pela sua admiradora Arlequina enquanto aguarda um julgamento. Joaquin Phoenix fez de “Fleck/Coringa” um ser ainda multifacetado e imprevisível em estabilidade emocional, o que justifica essa segunda história. Lady Gaga, como uma Arlequina que esconde um segredo final, acaba ficando irregularmente sóbria ou esquisita segundo o desenrolar do roteiro.
Os números musicais são uma ponte narrativa para os delírios de Fleck, e são acertadamente “crus” em termos de vocais e estética, ainda que os pontos de vista do casal principal nessas partes fiquem confusos às vezes. Tal elemento desperta inclusive outro subtexto, ligado tanto àquela Gotham - ou E.U.A. em geral - dos anos 1980 quanto à nossa atualidade: o circo gerado pelo sensacionalismo, que pode resultar em obsessões perigosas. O ato final também possui cenas que causam impacto, estejam preparados…
Ao ignorar outra vez a regra de ser fiel às HQs originais, e ao conduzir um roteiro no qual até a inquietante química entre Joaquin Phoenix e Lady Gaga nos lembra de que o personagem central não deve ser romantizado, Todd Phillips fez de “Coringa: Delírio a Dois” um filme também “desbotado” e mais surpreendentemente perturbador do que o primeiro. Para quem na verdade é apenas um indivíduo perdido ou perdedor, ao invés de um super-herói ou supervilão, aceitar a realidade dói menos… ou não.
Nota: 9
Por Fábio Cavalcanti
3 de setembro de 2024
Resenha: "OS FANTASMAS AINDA SE DIVERTEM - BEETLEJUICE BEETLEJUICE" [sem spoilers]
Tim Burton pode ser considerado decadente, por quem há anos sente falta de uma veia anárquica em sua típica mistura do sombrio com o lúdico. O novo filme desse peculiar diretor, ”Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice” (2024), é a continuação de “Os Fantasmas se Divertem”, de 1988. Aquela velha mensagem de afeição por indivíduos desajustados, e de perspectivas de uma louca vida após a morte, foi novamente alinhada às malandragens de um dos fantasmas mais lunáticos do cinema.
Enredo: três gerações da família Deetz visitam o velho casarão após uma tragédia, e assim o fantasma Beetlejuice tenta manipulá-los. Esse vilanesco sujeito, interpretado por um Michael Keaton maliciosamente “jovial”, teve então algo do seu passado revelado - o que envolve a sinistra personagem da Monica Bellucci -, mas ainda continua dando as caras apenas quando necessário. A personagem de Winona Ryder, agora mãe, ainda parece uma relacionável garota estranha, e a Catherine O'Hara se destaca como uma avó irreverente.
O roteiro, um tanto inchado em tramas paralelas, não favorece a aborrecida filha interpretada por Jenna Ortega. Algumas passagens, sempre envolvendo essa personagem ou outros três estreantes (Theroux, Conti, e Gorman), parecem pertencer a um filme diferente e menos interessante. Já Willem Dafoe, como um metalinguístico “ator policial fantasma”, é uma ótima surpresa. Tais confusões de roteiro não comprometem tanto o todo, e o ato final possui divertidíssimos absurdos que são o suco da imaginação de Burton…
”Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice” é um filme no qual Tim Burton voltou a juntar a comédia de humor negro, a fantasia cartunesca, os terrores do “gótico”, de “exorcismo”, e de “casa mal assombrada”, e suas estéticas distorcidas ou manufaturadas. Entre cores, pontos sombrios, e referências culturais que os novos espectadores não entenderão, o fato é que o nível de balbúrdia por parte da narrativa e do imoral Beetlejuice de Keaton, são aqui quase os mesmos do filme original. Digam o nome três vezes…
Nota: 8
Enredo: três gerações da família Deetz visitam o velho casarão após uma tragédia, e assim o fantasma Beetlejuice tenta manipulá-los. Esse vilanesco sujeito, interpretado por um Michael Keaton maliciosamente “jovial”, teve então algo do seu passado revelado - o que envolve a sinistra personagem da Monica Bellucci -, mas ainda continua dando as caras apenas quando necessário. A personagem de Winona Ryder, agora mãe, ainda parece uma relacionável garota estranha, e a Catherine O'Hara se destaca como uma avó irreverente.
O roteiro, um tanto inchado em tramas paralelas, não favorece a aborrecida filha interpretada por Jenna Ortega. Algumas passagens, sempre envolvendo essa personagem ou outros três estreantes (Theroux, Conti, e Gorman), parecem pertencer a um filme diferente e menos interessante. Já Willem Dafoe, como um metalinguístico “ator policial fantasma”, é uma ótima surpresa. Tais confusões de roteiro não comprometem tanto o todo, e o ato final possui divertidíssimos absurdos que são o suco da imaginação de Burton…
”Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice” é um filme no qual Tim Burton voltou a juntar a comédia de humor negro, a fantasia cartunesca, os terrores do “gótico”, de “exorcismo”, e de “casa mal assombrada”, e suas estéticas distorcidas ou manufaturadas. Entre cores, pontos sombrios, e referências culturais que os novos espectadores não entenderão, o fato é que o nível de balbúrdia por parte da narrativa e do imoral Beetlejuice de Keaton, são aqui quase os mesmos do filme original. Digam o nome três vezes…
Nota: 8
Por Fábio Cavalcanti
14 de agosto de 2024
Resenha: "ALIEN - ROMULUS" [sem spoilers]
”Alien: Romulus” (2024) confirma a deterioração da franquia de sci-fi e terror “Alien”? Ao longo de seis filmes, já vimos: um início cheio de suspense "Lovecraftiano", as naves ou outros recintos claustrofóbicos, as conexões entre aqueles sanguinários monstros xenomorfos e os perigos sexuais, parasitários, tecnológicos e militares, além de questões de matriarcado, redenções, e até umas pretensiosas filosofias acerca da "Criação". Esse 7º filme, dirigido por Fede Alvarez, concebe surpresas através de reciclagens…
Ambientada após os eventos do primeiro filme, “Alien - O 8º Passageiro” (Ridley Scott, 1979), e antes do também clássico “Aliens: O Resgate” (James Cameron, 1986), eis a nova e isolada trama: cinco jovens trabalhadores de uma colonização espacial tentam utilizar um androide e uma nave para se libertarem da gananciosa corporação Weyland-Yutani, e logo se deparam com os brutais xenomorfos. Há ainda certo subtexto posterior que soa mais lógico e menos maniqueísta aqui do que no discutível “Alien - A Ressurreição”.
Alvarez foi fiel ao legado dos dois filmes aclamados, algo reiterado por um desenvolvimento gradativo até as aparições das criaturas, pelo roteiro direto e com propositais pontas soltas, pelo vasto uso de efeitos práticos, e pela deleitosa reutilização da estética de “futurismo como imaginado por cineastas dos anos 70 e 80”. Já as sutis influências de filmes de irmandade ou “de assalto”, e o recorrente recurso “silêncio seguido de barulho e violência”, salientam o objetivo forte de atrair um público jovem.
O destaque do elenco é David Jonsson, que interpreta o androide mais relacionável da franquia. Os personagens de Cailee Spaeny, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn e Aileen Wu, são reais na medida certa, embora possamos deduzir quem sobreviverá no final. Certo lugar-comum da ação final de quase todos os filmes da saga - menos do subestimado “Alien 3” - ainda persiste, agora de forma criativa e novamente impactante. Outra cena que vai te arrepiar, é a que envolve o sangue ácido alienígena em microgravidade.
Em ”Alien: Romulus”, todo um paralelismo de propostas é executado de forma concisa e fluida. O iniciante será atraído aos 'facehuggers', aos xenomorfos, e a toda aquela junção de suspense, ação e terror. O veterano preferirá as admiráveis imersões antiquadas, e as referências aos pontos e mensagens dos filmes anteriores - o que inclui ainda uma boa e breve menção à ‘prequel’ “Prometheus”. Se esse filme é um teste isolado para tentar reabrir o “Alienverso”, sua qualidade ficou não menos do que primorosa…
Nota: 9
Ambientada após os eventos do primeiro filme, “Alien - O 8º Passageiro” (Ridley Scott, 1979), e antes do também clássico “Aliens: O Resgate” (James Cameron, 1986), eis a nova e isolada trama: cinco jovens trabalhadores de uma colonização espacial tentam utilizar um androide e uma nave para se libertarem da gananciosa corporação Weyland-Yutani, e logo se deparam com os brutais xenomorfos. Há ainda certo subtexto posterior que soa mais lógico e menos maniqueísta aqui do que no discutível “Alien - A Ressurreição”.
Alvarez foi fiel ao legado dos dois filmes aclamados, algo reiterado por um desenvolvimento gradativo até as aparições das criaturas, pelo roteiro direto e com propositais pontas soltas, pelo vasto uso de efeitos práticos, e pela deleitosa reutilização da estética de “futurismo como imaginado por cineastas dos anos 70 e 80”. Já as sutis influências de filmes de irmandade ou “de assalto”, e o recorrente recurso “silêncio seguido de barulho e violência”, salientam o objetivo forte de atrair um público jovem.
O destaque do elenco é David Jonsson, que interpreta o androide mais relacionável da franquia. Os personagens de Cailee Spaeny, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn e Aileen Wu, são reais na medida certa, embora possamos deduzir quem sobreviverá no final. Certo lugar-comum da ação final de quase todos os filmes da saga - menos do subestimado “Alien 3” - ainda persiste, agora de forma criativa e novamente impactante. Outra cena que vai te arrepiar, é a que envolve o sangue ácido alienígena em microgravidade.
Em ”Alien: Romulus”, todo um paralelismo de propostas é executado de forma concisa e fluida. O iniciante será atraído aos 'facehuggers', aos xenomorfos, e a toda aquela junção de suspense, ação e terror. O veterano preferirá as admiráveis imersões antiquadas, e as referências aos pontos e mensagens dos filmes anteriores - o que inclui ainda uma boa e breve menção à ‘prequel’ “Prometheus”. Se esse filme é um teste isolado para tentar reabrir o “Alienverso”, sua qualidade ficou não menos do que primorosa…
Nota: 9
Por Fábio Cavalcanti
1 de agosto de 2024
Resenha: "JACK WHITE - NO NAME"
Jack White lançou o álbum “No Name” (2024) de surpresa, em poucos discos de vinil, e depois o disponibilizou nos ‘streamings’ e afins. Aqui, ele manteve a sua claudicante voz anasalada, intensificou os atributos antiquados das suas guitarras (o 'Whammy', o 'Fuzz', as velhas pentatônicas, etc.), e bolou uma versão quase sofisticada do “punk blues” do seu antigo duo The White Stripes. É uma evoluída volta às raízes, ou uma falta de criatividade?
O estadunidense disparou uns conselhos rancorosos, e bebeu do blues rock setentista do Led Zeppelin, na ótima faixa de abertura “Old Scratch Blues”. A excelente “Bless Yourself” possui ironias à extrapolação do amor próprio, e seu peso evoca aquele Black Sabbath ainda “proto-metal”. “That's How I'm Feeling” tem cara de single, e é um paradoxo: letras sobre solidão, e ritmo dançante de ‘garage rock’. Turbilhões mentais que podem nos ocorrer após uma desilusão, dão a tônica no “proto-punk” ruidoso e alucinado de “Bombing Out”.
Algo de Jon Spencer Blues Explosion aparece em duas faixas: “It's Rough on Rats (If You're Asking)”, na qual um senso de pessimismo universal é conduzido por grooves e ‘slides’ de guitarra incomuns, e a sensacional “Archbishop Harold Holmes”, na qual o artista nos faz “marchar” quando incorpora - de forma meio ‘rapper’ - um falso e exaltado líder religioso. O grudento e às vezes “Stoneano” hard rock “Tonight (Was a Long Time Ago)” aborda nostalgias de amor ou sexo, e o rock garageiro “Missionary” nos diverte quando White banca um sedutor neurótico…
Os medos desse veterano quanto às manipulações que ocorrem na atual era das pós-verdades, aparecem entre as melodias sombrias de “What's the Rumpus?”, entre as harmonias esquisitas e os ‘slides’ meio country de “Underground”, e entre os arranjos velozes de “Number One With a Bullet”. “Morning at Midnight” é um vibrante chamado aos notívagos. E “Terminal Archenemy Endling”, com suas oscilações "Zeppelianas" e o tema sobre carências e novos aprendizados, é um impactante encerramento…
Em seu 6º álbum solo, “No Name” (2024), Jack White confirmou que sempre existirá a chance de um músico conceber canções criativas de um enérgico e ansioso rock alternativo, ao utilizar velhas influências, velhos timbres, e produção rústica. Esse tal “álbum surpresa” já é um candidato a figurar entre os melhores trabalhos do prolífico Jack!
Nota: 9
O estadunidense disparou uns conselhos rancorosos, e bebeu do blues rock setentista do Led Zeppelin, na ótima faixa de abertura “Old Scratch Blues”. A excelente “Bless Yourself” possui ironias à extrapolação do amor próprio, e seu peso evoca aquele Black Sabbath ainda “proto-metal”. “That's How I'm Feeling” tem cara de single, e é um paradoxo: letras sobre solidão, e ritmo dançante de ‘garage rock’. Turbilhões mentais que podem nos ocorrer após uma desilusão, dão a tônica no “proto-punk” ruidoso e alucinado de “Bombing Out”.
Algo de Jon Spencer Blues Explosion aparece em duas faixas: “It's Rough on Rats (If You're Asking)”, na qual um senso de pessimismo universal é conduzido por grooves e ‘slides’ de guitarra incomuns, e a sensacional “Archbishop Harold Holmes”, na qual o artista nos faz “marchar” quando incorpora - de forma meio ‘rapper’ - um falso e exaltado líder religioso. O grudento e às vezes “Stoneano” hard rock “Tonight (Was a Long Time Ago)” aborda nostalgias de amor ou sexo, e o rock garageiro “Missionary” nos diverte quando White banca um sedutor neurótico…
Os medos desse veterano quanto às manipulações que ocorrem na atual era das pós-verdades, aparecem entre as melodias sombrias de “What's the Rumpus?”, entre as harmonias esquisitas e os ‘slides’ meio country de “Underground”, e entre os arranjos velozes de “Number One With a Bullet”. “Morning at Midnight” é um vibrante chamado aos notívagos. E “Terminal Archenemy Endling”, com suas oscilações "Zeppelianas" e o tema sobre carências e novos aprendizados, é um impactante encerramento…
Em seu 6º álbum solo, “No Name” (2024), Jack White confirmou que sempre existirá a chance de um músico conceber canções criativas de um enérgico e ansioso rock alternativo, ao utilizar velhas influências, velhos timbres, e produção rústica. Esse tal “álbum surpresa” já é um candidato a figurar entre os melhores trabalhos do prolífico Jack!
Nota: 9
Por Fábio Cavalcanti
Músicas:
1. Old Scratch Blues
2. Bless Yourself
3. That's How I'm Feeling
4. It's Rough on Rats (If You're Asking)
5. Archbishop Harold Holmes
6. Bombing Out
7. What's the Rumpus?
8. Tonight (Was a Long Time Ago)
9. Underground
10. Number One With a Bullet
11. Morning at Midnight
12. Missionary
13. Terminal Archenemy Endling
1. Old Scratch Blues
2. Bless Yourself
3. That's How I'm Feeling
4. It's Rough on Rats (If You're Asking)
5. Archbishop Harold Holmes
6. Bombing Out
7. What's the Rumpus?
8. Tonight (Was a Long Time Ago)
9. Underground
10. Number One With a Bullet
11. Morning at Midnight
12. Missionary
13. Terminal Archenemy Endling
19 de julho de 2024
Resenha: "DEEP PURPLE - =1"
Há quem diga que o Deep Purple já deveria ter se aposentado, como se bastasse o fato dessa banda britânica ter feito parte da turma setentista que solidificou o hard rock e o heavy metal, ou como se bastassem o hit “Smoke on the Water” e os álbuns “In Rock” e “Machine Head”. Quem abrir a mente, encontrará ao menos um pouco de revitalização enérgica no 23º álbum dos velhinhos: “=1” (2024), o 5º com a produção polida do Bob Ezrin.
Ian Gillan brincou mais com as métricas e outras possibilidades da sua desgastada voz anasalada, e ousou soar jovial e malandro em muitas das novas letras. Ian Paice continuou fazendo rufar as suas sempre frescas variações de bateria. Roger Glover fez o seu baixo “jogar para o grupo”. Don Airey elaborou teclados mais exóticos e menos reminiscentes do saudoso Jon Lord. Já o novo guitarrista Simon McBride, desprovido da autenticidade dos ex-membros Ritchie Blackmore e Steve Morse, criou riffs e solos firmes…
“Show Me”, “A Bit on the Side”, e “Sharp Shooter”, são uma ótima entrada: voz maliciosa, letras safadas, peso cadenciado ou suíngue pulsante, e o início das conversações entre guitarras e teclados. “Portable Door” possui uma letra enigmática sobre o ato de evitarmos aporrinhações, e remete à 'bluesy' e melódica "Pictures of Home". “Old-Fangled Thing” é um boogie rock sensual, acelerado, e dotado de pequenas surpresas estruturais. A lenta e linda “If I Were You”, que aborda a resignação, recupera o ‘feeling’ da fase do Morse.
“Pictures of You”, uma crítica às atuais falsas aparências, pode soar estranha em termos de harmonias. “I'm Saying Nothin'”, boa ode ao silêncio, passará batida para muita gente. A excelente “Lazy Sod”, que aborda a preguiça frente a problemas mundiais, parece um blues rock do "Fireball". A veloz e arrepiante “Now You're Talkin'” traz os turbilhões mentais e uns berros inesperados do Gillan. “No Money to Burn”, com o seu otimismo brincalhão, soaria bem num bar. A lenta e afetiva “I'll Catch You” é embebida por vocais e solos “doloridos”…
Por fim, o hard rock progressivo e intrincado “Bleeding Obvious” nos incentiva, paradoxalmente, a encararmos com simplicidade o nosso mundo complicado. E então, após a conclusão desse álbum “=1”, me ocorreu a pergunta: existe tesão na terceira idade? Através de 13 dignas canções, o Deep Purple respondeu positivamente, e exigiu que esqueçamos por ora a sua própria idade. Vida “longa” para eles, e para todos nós!
Nota: 8
Ian Gillan brincou mais com as métricas e outras possibilidades da sua desgastada voz anasalada, e ousou soar jovial e malandro em muitas das novas letras. Ian Paice continuou fazendo rufar as suas sempre frescas variações de bateria. Roger Glover fez o seu baixo “jogar para o grupo”. Don Airey elaborou teclados mais exóticos e menos reminiscentes do saudoso Jon Lord. Já o novo guitarrista Simon McBride, desprovido da autenticidade dos ex-membros Ritchie Blackmore e Steve Morse, criou riffs e solos firmes…
“Show Me”, “A Bit on the Side”, e “Sharp Shooter”, são uma ótima entrada: voz maliciosa, letras safadas, peso cadenciado ou suíngue pulsante, e o início das conversações entre guitarras e teclados. “Portable Door” possui uma letra enigmática sobre o ato de evitarmos aporrinhações, e remete à 'bluesy' e melódica "Pictures of Home". “Old-Fangled Thing” é um boogie rock sensual, acelerado, e dotado de pequenas surpresas estruturais. A lenta e linda “If I Were You”, que aborda a resignação, recupera o ‘feeling’ da fase do Morse.
“Pictures of You”, uma crítica às atuais falsas aparências, pode soar estranha em termos de harmonias. “I'm Saying Nothin'”, boa ode ao silêncio, passará batida para muita gente. A excelente “Lazy Sod”, que aborda a preguiça frente a problemas mundiais, parece um blues rock do "Fireball". A veloz e arrepiante “Now You're Talkin'” traz os turbilhões mentais e uns berros inesperados do Gillan. “No Money to Burn”, com o seu otimismo brincalhão, soaria bem num bar. A lenta e afetiva “I'll Catch You” é embebida por vocais e solos “doloridos”…
Por fim, o hard rock progressivo e intrincado “Bleeding Obvious” nos incentiva, paradoxalmente, a encararmos com simplicidade o nosso mundo complicado. E então, após a conclusão desse álbum “=1”, me ocorreu a pergunta: existe tesão na terceira idade? Através de 13 dignas canções, o Deep Purple respondeu positivamente, e exigiu que esqueçamos por ora a sua própria idade. Vida “longa” para eles, e para todos nós!
Nota: 8
Por Fábio Cavalcanti
Músicas:
1. Show Me
2. A Bit on the Side
3. Sharp Shooter
4. Portable Door
5. Old-Fangled Thing
6. If I Were You
7. Pictures of You
8. I'm Saying Nothin'
9. Lazy Sod
10. Now You're Talkin'
11. No Money to Burn
12. I'll Catch You
13. Bleeding Obvious
1. Show Me
2. A Bit on the Side
3. Sharp Shooter
4. Portable Door
5. Old-Fangled Thing
6. If I Were You
7. Pictures of You
8. I'm Saying Nothin'
9. Lazy Sod
10. Now You're Talkin'
11. No Money to Burn
12. I'll Catch You
13. Bleeding Obvious
15 de julho de 2024
Resenha: "TRAVIS - L.A. TIMES"
Surgido na Escócia, o quarteto Travis fez sua contribuição ao 'britpop' do final dos anos 90, com canções como "Why Does It Always Rain On Me?" e "Sing". Fran Healy, dono de uma voz belamente franzina ou sussurrada, burilou um 'alt-rock' que puxava o lado semi acústico e melancólico do Oasis, Teenage Fanclub, R.E.M., e afins, e assim inspirou também o Coldplay inicial. Analisemos agora o seu 10º álbum, “L.A. Times” (2024).
Healy cita o novo trabalho como bastante pessoal, o que explica sua produção à la “Beck influenciado pelo Big Star” e o certo abafamento nos arranjos minimalistas dos seus companheiros Payne, Dunlop e Primrose. “Bus”, faixa que tem metáforas óbvias sobre a espera por mudanças positivas, é um quase esquecível “indie folk/rock”. A razoável “Raze The Bar”, uma homenagem aos coloridos e efêmeros bares, possui um mix de melodias grudentas, temperos soul, e uma sutil participação de Chris Martin e Brandon Flowers.
As coisas melhoram nos falsetes e dedilhados de “Live It All Again”, uma singela canção acústica que nos incentiva a valorizar as boas lembranças após um término de relacionamento. A chamativa “Gaslight” tem uma letra inquieta e sardônica sobre abusos psicológicos, e sua abordagem - com uns instrumentos de sopro - evoca os rocks “bastante britânicos” do The Kinks. A ótima “Alive” enaltece a nossa tenacidade frente ao tempo, e seus pontinhos soturnos lembram os tempos do álbum "The Invisible Band"...
Conselhos paternais, e uma base de "hip hop soul", não engatam uma centelha efetiva à faixa “Home”. A malemolente “I Hope That You Spontaneously Combust”, que ironiza as tóxicas redes sociais, soaria bem no Tik Tok. O folk “Naked In New York City”, com o seu bom ‘feeling’ no tema de inseguranças, parece uma sobra do cultuado álbum "The Man Who". “The River” traz novos conselhos paternais de superação, catarses na performance, e boas melodias escocesas.
“L.A. Times” é encerrado por uma faixa-título que descreve o lado obscuro de Los Angeles, com uns bizarros versos de “rap branquelo” que não minam por completo sua atrativa melancolia noturna. Assim, ao fim de breves 32 minutos, notamos nesse álbum um Travis ainda escutável, às vezes corajoso, e definitivamente distante do espírito “loser” que resultou nas doloridas e maravilhosas músicas dos seus primeiros anos…
Nota: 6
Healy cita o novo trabalho como bastante pessoal, o que explica sua produção à la “Beck influenciado pelo Big Star” e o certo abafamento nos arranjos minimalistas dos seus companheiros Payne, Dunlop e Primrose. “Bus”, faixa que tem metáforas óbvias sobre a espera por mudanças positivas, é um quase esquecível “indie folk/rock”. A razoável “Raze The Bar”, uma homenagem aos coloridos e efêmeros bares, possui um mix de melodias grudentas, temperos soul, e uma sutil participação de Chris Martin e Brandon Flowers.
As coisas melhoram nos falsetes e dedilhados de “Live It All Again”, uma singela canção acústica que nos incentiva a valorizar as boas lembranças após um término de relacionamento. A chamativa “Gaslight” tem uma letra inquieta e sardônica sobre abusos psicológicos, e sua abordagem - com uns instrumentos de sopro - evoca os rocks “bastante britânicos” do The Kinks. A ótima “Alive” enaltece a nossa tenacidade frente ao tempo, e seus pontinhos soturnos lembram os tempos do álbum "The Invisible Band"...
Conselhos paternais, e uma base de "hip hop soul", não engatam uma centelha efetiva à faixa “Home”. A malemolente “I Hope That You Spontaneously Combust”, que ironiza as tóxicas redes sociais, soaria bem no Tik Tok. O folk “Naked In New York City”, com o seu bom ‘feeling’ no tema de inseguranças, parece uma sobra do cultuado álbum "The Man Who". “The River” traz novos conselhos paternais de superação, catarses na performance, e boas melodias escocesas.
“L.A. Times” é encerrado por uma faixa-título que descreve o lado obscuro de Los Angeles, com uns bizarros versos de “rap branquelo” que não minam por completo sua atrativa melancolia noturna. Assim, ao fim de breves 32 minutos, notamos nesse álbum um Travis ainda escutável, às vezes corajoso, e definitivamente distante do espírito “loser” que resultou nas doloridas e maravilhosas músicas dos seus primeiros anos…
Nota: 6
Por Fábio Cavalcanti
Músicas:
1. Bus
2. Raze The Bar
3. Live It All Again
4. Gaslight
5. Alive
6. Home
7. I Hope That You Spontaneously Combust
8. Naked In New York City
9. The River
10. L.A. Times
1. Bus
2. Raze The Bar
3. Live It All Again
4. Gaslight
5. Alive
6. Home
7. I Hope That You Spontaneously Combust
8. Naked In New York City
9. The River
10. L.A. Times
12 de julho de 2024
Resenha: "MR. BIG - TEN"
A banda estadunidense Mr. Big inseriu um hard rock tão virtuosístico quanto pop, no finalzinho da onda do “glam metal” oitentista. Seu breve sucesso ocorreu em 1991, através do álbum "Lean into It" e do hit "To Be With You". Em 2024, sem um dos seus membros clássicos, o quarteto lançou seu 10º álbum, “Ten”, e já anunciou outro término de atividades…
Eric Martin não escondeu os desgastes de alcance da sua distinta e arfante voz ‘soulful’. As melodiosas "fritações" do guitarrista Paul Gilbert, e os reconhecíveis 'tappings' do baixista Billy Sheehan, são usados aqui de forma econômica, e são amplificados apenas em trechos que abrilhantam até mesmo algumas das canções mais fracas do novo lote. O baterista Nick D'Virgilio incorporou bem as nuances 'fusion' do saudoso Pat Torpey. E claro, as boas harmonias vocais “retrôs” permanecem…
A ótima “Good Luck Trying” é de um humor autodepreciativo no tema da resiliência, e suas quebradeiras jazzistas homenageiam “Manic Depression”, do Jimi Hendrix. “I Am You” aborda a toxicidade recíproca de um relacionamento, e suga de um semi acústico power pop sessentista. “Right Outta Here”, uma ode às mulheres impiedosas, chama atenção por pontuais melodias exóticas. “Sunday Morning Kinda Girl” é um pop/rock 'bluesy', ensolarado, e bobamente amoroso. Já “Who We Are” é uma baladinha romântica genérica.
A violonista e apaixonada “As Good As It Gets” possui um groove cafona à la “The Who da fase pós Keith Moon". “What Were You Thinking” e “Up On You”, as favoritas deste que vos escreve, soam insinuantes ou malandras, e evocam o agitado rock 'n' roll do Aerosmith setentista. A cadenciada “Courageous” oferece otimismos e umas melodias básicas. A lenta e melancólica “The Frame” aborda o envelhecimento, e encerra os novos trabalhos de forma acertadamente comovente.
Os pontos altos de “Ten” são as eventuais músicas “hard/blues rockers” - incluindo a bônus “8 Days On The Road” (já gravada por Howard Tate, Aretha Franklin, e Foghat). Ainda assim, respeito a coragem desses veteranos de optarem por variações "Beatlenescas" e produção intimista ao invés da robustez sônica de outrora. Se você curtiu “Defying Gravity”, a despedida de Torpey, também apreciará esse bom “adeus” de Martin, Sheehan e Gilbert.
Nota: 7
Eric Martin não escondeu os desgastes de alcance da sua distinta e arfante voz ‘soulful’. As melodiosas "fritações" do guitarrista Paul Gilbert, e os reconhecíveis 'tappings' do baixista Billy Sheehan, são usados aqui de forma econômica, e são amplificados apenas em trechos que abrilhantam até mesmo algumas das canções mais fracas do novo lote. O baterista Nick D'Virgilio incorporou bem as nuances 'fusion' do saudoso Pat Torpey. E claro, as boas harmonias vocais “retrôs” permanecem…
A ótima “Good Luck Trying” é de um humor autodepreciativo no tema da resiliência, e suas quebradeiras jazzistas homenageiam “Manic Depression”, do Jimi Hendrix. “I Am You” aborda a toxicidade recíproca de um relacionamento, e suga de um semi acústico power pop sessentista. “Right Outta Here”, uma ode às mulheres impiedosas, chama atenção por pontuais melodias exóticas. “Sunday Morning Kinda Girl” é um pop/rock 'bluesy', ensolarado, e bobamente amoroso. Já “Who We Are” é uma baladinha romântica genérica.
A violonista e apaixonada “As Good As It Gets” possui um groove cafona à la “The Who da fase pós Keith Moon". “What Were You Thinking” e “Up On You”, as favoritas deste que vos escreve, soam insinuantes ou malandras, e evocam o agitado rock 'n' roll do Aerosmith setentista. A cadenciada “Courageous” oferece otimismos e umas melodias básicas. A lenta e melancólica “The Frame” aborda o envelhecimento, e encerra os novos trabalhos de forma acertadamente comovente.
Os pontos altos de “Ten” são as eventuais músicas “hard/blues rockers” - incluindo a bônus “8 Days On The Road” (já gravada por Howard Tate, Aretha Franklin, e Foghat). Ainda assim, respeito a coragem desses veteranos de optarem por variações "Beatlenescas" e produção intimista ao invés da robustez sônica de outrora. Se você curtiu “Defying Gravity”, a despedida de Torpey, também apreciará esse bom “adeus” de Martin, Sheehan e Gilbert.
Nota: 7
Por Fábio Cavalcanti
Músicas:
1. Good Luck Trying
2. I Am You
3. Right Outta Here
4. Sunday Morning Kinda Girl
5. Who We Are
6. As Good As It Gets
7. What Were You Thinking
8. Courageous
9. Up On You
10. The Frame
11. 8 Days On The Road [faixa bônus]
1. Good Luck Trying
2. I Am You
3. Right Outta Here
4. Sunday Morning Kinda Girl
5. Who We Are
6. As Good As It Gets
7. What Were You Thinking
8. Courageous
9. Up On You
10. The Frame
11. 8 Days On The Road [faixa bônus]
5 de junho de 2024
Resenha: "BAD BOYS - ATÉ O FIM" [sem spoilers]
Desastre é o que define "Bad Boys: Até o Fim" (2024), visto que até os fãs do cinema 'blockbuster' dos anos 90 não imploravam por continuações do ensolarado filme "Bad Boys"? "Máquina Mortífera" e "48 Horas" já haviam concretizado o padrão do subgênero 'buddy cop': camaradagem e discussões acaloradas entre indivíduos opostos. Acompanhemos então a 4ª missão daqueles histriônicos policiais vividos por Will Smith e Martin Lawrence…
Pela segunda vez, os diretores Adil e Bilall acrescentaram vulnerabilidades da meia-idade a Mike (Smith) e Marcus (Lawrence), como as maiores possibilidades de morte, uns machucados intensos, e um novo transtorno psicológico. Continuam empolgantes também as melhorias quanto aos exageros do diretor original Michael Bay: as cenas de ação absurdas e visualmente estilosas, e a comédia de humor negro. A trama policial envolve uma armação contra os heróis, um tipo de clichê ainda meio inédito na franquia em questão.
O caos proposital na narrativa não deve ser levado a sério, da mesma forma que não precisaríamos de maiores desenvolvimentos dos personagens de Jacob Scipio, Eric Dane, Rhea Seehorn, Melanie Liburd, e outros... E caso você não aprecie com um sorriso bobo as divertidas destruições, os trechos “oníricos” com o saudoso personagem do Joe Pantoliano, a cena de um jacaré (“Racista!”), a reviravolta ‘badass’ de certo personagem antigo, ou a referência ao “tapa do Oscar” num ápice, estás velho demais para filmes de gênero…
"Bad Boys: Até o Fim" é outra sequência amplamente cativante, como foi também o filme anterior. A química de Will Smith e Martin Lawrence continua certeira e imoral, e tanto a ação frenética quanto os pontos de relações familiares não possuem os exageros crescentes de um "Velozes e Furiosos" ou a superficialidade excessiva dos dois “crássicos” da própria franquia. Curtam esse filme com pipoca e uma boa companhia, sem culpa.
Nota: 8
Pela segunda vez, os diretores Adil e Bilall acrescentaram vulnerabilidades da meia-idade a Mike (Smith) e Marcus (Lawrence), como as maiores possibilidades de morte, uns machucados intensos, e um novo transtorno psicológico. Continuam empolgantes também as melhorias quanto aos exageros do diretor original Michael Bay: as cenas de ação absurdas e visualmente estilosas, e a comédia de humor negro. A trama policial envolve uma armação contra os heróis, um tipo de clichê ainda meio inédito na franquia em questão.
O caos proposital na narrativa não deve ser levado a sério, da mesma forma que não precisaríamos de maiores desenvolvimentos dos personagens de Jacob Scipio, Eric Dane, Rhea Seehorn, Melanie Liburd, e outros... E caso você não aprecie com um sorriso bobo as divertidas destruições, os trechos “oníricos” com o saudoso personagem do Joe Pantoliano, a cena de um jacaré (“Racista!”), a reviravolta ‘badass’ de certo personagem antigo, ou a referência ao “tapa do Oscar” num ápice, estás velho demais para filmes de gênero…
"Bad Boys: Até o Fim" é outra sequência amplamente cativante, como foi também o filme anterior. A química de Will Smith e Martin Lawrence continua certeira e imoral, e tanto a ação frenética quanto os pontos de relações familiares não possuem os exageros crescentes de um "Velozes e Furiosos" ou a superficialidade excessiva dos dois “crássicos” da própria franquia. Curtam esse filme com pipoca e uma boa companhia, sem culpa.
Nota: 8
Por Fábio Cavalcanti
16 de maio de 2024
Resenha: "FURIOSA - UMA SAGA MAD MAX" [sem spoilers]
Os três primeiros filmes de ”Mad Max”, estrelados por Mel Gibson entre 1979 e 1985, rejeitavam os arquétipos de franquias. O diretor George Miller “nos atirava” num desértico futuro pós-apocalíptico, habitado por sobreviventes que buscam - muitas vezes em seus carros velozes - por vinganças, poder, ou redenção, em meio à escassez de recursos naturais… Já o novo filme, "Furiosa: Uma Saga Mad Max" (2024), é um pouco diferente…
O ‘reboot’ “Estrada da Fúria” (2015), no qual o Tom Hardy interpreta o Max, gerou uma curiosidade quanto a uma então estreante personagem: a determinada Imperator Furiosa, vivida por Charlize Theron. Nesse 5º trabalho, Miller conta a história de origem da guerreira supracitada. O mais importante sobre a jovem personagem, funciona: a atuação vigorosa de Anya Taylor-Joy no geral, e os momentos iniciais com a atriz mirim Alyla Browne.
Espectadores aficionados por roteiros corretinhos, ficarão satisfeitos com a forma como o novo filme explora grande parte dos pontos e personagens “meio soltos” do anterior, através de uma estrutura em capítulos que é sinuosa e paciente. Já o público “escapista” sentirá falta de reviravoltas mais chocantes e memoráveis, e também lamentará o fato de que ocorrem aqui apenas uma ou duas perseguições (uma delas impressionante) de carros…
Um dos dois vilões, que é o fanfarrão interpretado por Chris Hemsworth, consegue roubar a cena sempre que aparece, da mesma forma que toda a “mitologia meio faroeste” daquele universo continua imersiva. O cinéfilo do tipo degustador poderá se deleitar com as imagens e sons dos agora extensos momentos “silenciosos”, algo que salienta toda a questão existencial de como seria a vida numa Terra desolada.
Como história de origem, jornada do herói, e trama de vingança, num bom mix de ação turbinada e sci-fi, o "Furiosa: Uma Saga Mad Max" merece créditos pela tentativa de não ser um ‘prequel’ inútil. Quanto a uma avaliação que vá além do respeito à boa performance da Anya Taylor-Joy e a todo aquele esmero técnico, esse longo filme nos deixa mesmo é com vontade de revisitar a ainda convidativa “Estrada da Fúria”, se é que me entendem…
Nota: 7
O ‘reboot’ “Estrada da Fúria” (2015), no qual o Tom Hardy interpreta o Max, gerou uma curiosidade quanto a uma então estreante personagem: a determinada Imperator Furiosa, vivida por Charlize Theron. Nesse 5º trabalho, Miller conta a história de origem da guerreira supracitada. O mais importante sobre a jovem personagem, funciona: a atuação vigorosa de Anya Taylor-Joy no geral, e os momentos iniciais com a atriz mirim Alyla Browne.
Espectadores aficionados por roteiros corretinhos, ficarão satisfeitos com a forma como o novo filme explora grande parte dos pontos e personagens “meio soltos” do anterior, através de uma estrutura em capítulos que é sinuosa e paciente. Já o público “escapista” sentirá falta de reviravoltas mais chocantes e memoráveis, e também lamentará o fato de que ocorrem aqui apenas uma ou duas perseguições (uma delas impressionante) de carros…
Um dos dois vilões, que é o fanfarrão interpretado por Chris Hemsworth, consegue roubar a cena sempre que aparece, da mesma forma que toda a “mitologia meio faroeste” daquele universo continua imersiva. O cinéfilo do tipo degustador poderá se deleitar com as imagens e sons dos agora extensos momentos “silenciosos”, algo que salienta toda a questão existencial de como seria a vida numa Terra desolada.
Como história de origem, jornada do herói, e trama de vingança, num bom mix de ação turbinada e sci-fi, o "Furiosa: Uma Saga Mad Max" merece créditos pela tentativa de não ser um ‘prequel’ inútil. Quanto a uma avaliação que vá além do respeito à boa performance da Anya Taylor-Joy e a todo aquele esmero técnico, esse longo filme nos deixa mesmo é com vontade de revisitar a ainda convidativa “Estrada da Fúria”, se é que me entendem…
Nota: 7
Por Fábio Cavalcanti
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